José Maria Rodrigues da Silva - A Justiça e a comunicação social. Do Direito
Problemático à Comunicação Antropofágica. Fólio Edições, Porto, 2003.
"O tema que nos convoca e estarmos aqui, em 27 de Abril de 2007, ou seja em plena , pós modernidade, nesta bela sala do Supremo Tribunal de Justiça, que remonta ao Estado Liberal e a D.Maria II e é, por isso, moderna, - como sabem - a mediação entre a Justiça e a sociedade.
Compreende-se o que se pretende: que a Justiça e a sociedade se conheçam e respeitem melhor.
Mas a mediação afigura-se-me inapta para que se alcance o que se pretende, pois o que a caracteriza é a actuação de um terceiro, por definição neutro, que ajude as partes a encontrarem por si próprias uma solução negociada ou amigável. Ora, esse mediador, tendo em atenção o que se passa nas sociedades mediáticas de hoje, em que o real só existe ou só é reconhecido se for mediatizado, teria que ser constituído pelos media, com relevo para a televisão, o media hegemónico, cuja actuação, a da televisão sobretudo, não se vem caracterizando pela neutralidade.
É natural. “Ao contrário da lógica de funcionamento do tribunal, que está marcada por um acto, julgar, que implica contenção, distanciamento, imparcialidade e um processo demorado de actuação, a da Comunicação Social está marcada por um outro acto, comunicar, que implica espectáculo, dramatismo, imediatismo , prevalência do sentir sobre o pensar.
Invocando a opinião pública, de que se reclamam os intérpretes, os media electrónicos identificam-se com a vítima e não com o juiz, a menos que este lhes apareça como um justiceiro, ou seja, como um super-poder ou um contra-poder e, deixando-se levar pelo mito da transparência, ao disputarem à Justiça o lugar de visibilidade da democracia, olham com simpatia a nova virtude, o voyeurismo e com desconfiança todos os segredos, sobretudo os de Justiça, o que cria uma cultura de desconfiança, que afecta o poder em geral mas é especialmente prejudicial para a Justiça, que é de todos os poderes do Estado o que mais depende do simbólico. "
Ou seja, os juizes e os mais altos magistrados sabem onde está o problema, a questão é, como podemos nós, simples cidadãos combater este tipo de coisa? não temos acesso ás televisões e nem temos acesso aos fundamentos processuais da justiça!
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