terça-feira, 17 de agosto de 2010

a propósito de guerra junqueiro

dizia uma querida amiga á uns dias atrás que eu deveria ter mais cuidado com o que escrevo aqui, eu respondi que aquilo que disse não é uma critica á instituição justiça, é muitas vezes, confesso, uma critica a pessoas que não estando preparados para a admnistrar, fazem mau uso dos poderes que o estado lhes colocou em mãos.
não sei qual o critério de apreciação desses membros da justiça, sei que numa sociedade cada vez mais exigente, todos somos sujeitos a avaliações, no caso concreto da justiça um erro pode condenar irremediavelmente a vida de uma pessoa, exigia-se por isso bom senso, experiencia de vida e independencia. Mas na verdade um País que tem na presidencia um homem que nunca se engana e raramente tem duvidas, de alguma maneira ilustra de uma forma muito linear, o alto conceito que têm deles mesmos, mas que na prática não mostram resultados de acordo com o tal altissimo conceito!
no texto de 1896 reparem no que escrevia guerra junqueiro.

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

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