quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Isto há cada coisa....

05 Setembro 2010A minha previsão da prisão de Carlos Cruz
No dia em que foi publicada a primeira notícia do Expresso sobre os «casos de pedofilia» fui ao Snob, na Rua do Século, e sentei-me na mesa do canto, onde habitualmente se sentam os jornalistas.


Frequento essa mesa, agora mais esporadicamente, há cerca de 35 anos. Estava lá nesse dia a própria autora do primeiro escrito e alguns amigos de que não posso precisar os nomes. Lembro-me que estava o José Mateus.


Eu tinha lido a notícia com atenção e aquilo «ligava» com uma coisa que eu tinha visto uns anos antes. Por isso mesmo avancei com a previsão de que, a breve prazo, haveria prisões de pessoas importantes. E citei alguns nomes, entre os quais o do Carlos Cruz.


E porque é que o fiz?


Anos antes, fui consultado por um jornalista, aliás também um grande amigo, que estava a preparar um livro sobre pedofilia, tomando por base um processo judicial, cuja cópia eu li com toda a atenção, o qual tinha sido abafado, alegadamente, porque tinha como cabeça de cartaz um alto dignitário de uma organização maçónica.


O processo tinha sido iniciado com diligências relacionadas com uma investigação ao desaparecimento de documentos do automóvel de um ministro de um governo do Prof. Cavaco Silva, que teriam sido furtados por prostitutos.


Nesse processo continham-se algumas dezenas de depoimentos de rapazes que se dedicavam à prostituição masculina nas ruas de Lisboa, todos eles muito pouco consistentes, que declaravam, prostituir-se com senhores que passavam pelas ruas por eles frequentadas (em Belém e no Parque Eduardo VII).


Entre os nomes dos clientes figuravam as principais figuras da televisão, o referido dignitário maçónico, o dono de um dos maiores laboratórios de análises clínicas de Lisboa, vários diplomatas e dois ministros do referido governo.


Da análise que fiz, na altura, penso que na fase final do Conselho de Imprensa, de que eu fora membro, conclui que aqueles depoimentos não tinham a mínima credibilidade para suportar um livro e, por isso mesmo, desaconselhei o meu amigo, que é o jornalista Pedro Varanda de Castro, a desistir do projeto.


Outro elemento importante para o conselho: tinha sido recentemente alterado o Código Penal, no sentido de não admitir, em nenhuma circunstância, a prova da verdade dos factos relativamente a factos relativos à intimidade da vida privada.


Perguntar-se-à porque razão aventei nessa noite a previsão da prisão de Carlos Cruz?


Precisamente porque Carlos Cruz era a pessoa mais importante (com mais notoriedade) referida pelos prostitutos, a par, aliás, de uma série de outros nomes famosos da televisão, como se o próprio investigador, que aliás conheci (e que penso que foi expulso da PJ, por outras razões), tivesse conduzido o processo para decapitar os nomes mais mediáticos deste país.


Era muito importante que esse processo aparecesse, porque do que li depois, o processo Casa Pia parece um clone dele.

http://falenciadajustica.blogspot.com/2010/09/minha-previsao-da-prisao-de-carlos-cruz.html

Não há pior cego que aquele que não quer ver!

Presidente do STJ admite aproveitamento político de casos mediáticos - RTP Noticias, Vídeo



Quando se encontram os verdadeiros criminosos e as provas são evidentes, o assunto resolve-se facilmente – investigação – acusação – julgamento - condenação. O pior é quando não se encontram os criminosos ou quando os indícios são fracos ou pouco consistentes e os magistrados tentam encontrar bodes expiatórios.

No passado, o mais comum dos erros judiciários era julgarem e acusarem pessoas já cadastradas, a quem ninguém dava o benefício da inocência.

O segundo erro judiciário mais habitual é fazer julgamento por pré convicção contra alguém, socorrendo-se de valorização de erros menores sobrevalorizados, falhas de entendimento da realidade, ou mesmo invenção de factos. Num cenário de crise é satisfatório para a justiça, para os média e para a opinião pública, encontrar vítimas entre pessoas de níveis económico elevado, ou figuras conhecidas do grande público. Um político, um apresentador de televisão, um banqueiro, um administrador de uma empresa são as presas ideais.

Causas do erro

Há várias causas de erro judiciário. A principal é a pressão mediática, quando os jornais se envolvem em campanhas de divulgação com títulos de capa que ajudam a vender exemplares e despertam a ira da opinião pública. Em muitos casos a ânsia de dar as notícias leva a criação de cenários exagerados ou mesmo invenções mentirosas, para os quais a opinião pública começa a reclamar justiça. Os magistrados e as polícias vêm-se então num dilema que é o de mostrar trabalho ou passarem por incompetentes. Começam a evitar a todo o custo a situação de absolvição que facilmente é conotada com ineficácia ou mesmo proteccionismo dos suspeitos.

Portugal do início do Século XXI parece estar a viver uma situação particularmente receptiva a este tipo de comportamento – julgamento e acusação com poucas provas. Vejam-se os julgamentos dos últimos anos.

No processo Casa Pia, tentaram envolver-se os políticos do PS, começando pela sua direcção. Perante a inconsistência de indícios, provas imprecisas, contradições, ficaram-se por Carlos Cruz (que na verdade ninguém na sua mais profunda racionalidade e com absoluta certeza é capaz de afirmar se é culpado ou se é inocente).

O processo Freeport só vendeu jornais enquanto pairavam suspeitas sobre o Primeiro-Ministro. Assim que os procuradores se convenceram que não encontravam nada por onde pegar em Sócrates, o caso morreu e já ninguém se interessa pelo assunto.

No mais recente Face Oculta, ninguém está verdadeiramente interessado em saber se Godinho viciava as pesagens do camiões de sucata, aliás o que devem fazer todos ou quase todos os oficiais desta suja mas necessária actividade. Tentaram à custa disto apanhar mais uma vez o Primeiro-Ministro. Mas uma vez que não apareceu nada credível a envolver Sócrates, nem mesmo à custa de escutas abusivas e ilegais de chamadas telefónicas, viraram-se para figuras do partido socialista, ou quem eles pensam que estão em cargos arranjados pelo partido socialista.

Desta vez a justiça não quer passar a imagem que eles têm de si próprios, leia-se em (Portal Jurídico) - “antes da sentença da Casa Pia estava a criar-se no país um perigosíssimo ambiente de impunidade. Iam ocorrendo crimes, iam-se sucedendo os casos - mas nunca havia culpados”. A partir de agora tem de haver, com provas ou sem provas.

Os procuradores de Aveiro dão todos os sinais de serem capazes de cometer erro judiciário. Alguns dos motivos para acusação de pessoas são ridículos, como a oferta de um pão de ló ou de garrafas de vinho. Afirmações como: “…fez isto para parecer comportamento impoluto…”, “… dando seguimento ao combinado para beneficiar xxx…”; erro de pesagem de camiões de 128,80Euros, etc. Há mesmo uma vontade de acusar sem indícios credíveis de crime. Confundem actos de gestão dentro de uma empresa com máfia organizada para lesar o Estado. Quanto menos matéria para verdadeira acusação, mais se vão voltar para detalhes de menor importância.

Inacreditável. Só lendo a despacho de acusação com uns olhos diferentes dos de alguns jornalistas se começa a perceber a complexa teia, ou incompetência.

Depois de tanto se ter escrito na comunicação social sobre o assunto, os magistrados já não se vão contentar em acusar três ou quatro verdadeiros culpados, tentarão apontar as baterias para o maior número de pessoas possível (para começar 36).

Nota: Agora já começo a duvidar mesmo daqueles casos que parecem mais evidentes de fraude, porque podemos estar a ser induzidos numa certa opinião, ou outros interesses que não a tal justiça da espada e da balança com os olhos vendados.

do blog do eu-calipto.sapo

Lembram-se?

Lembram-se de eu colocar os graficos sobre as horas dedicadas ao processo Casa Pia?
Dos casos semelhantes noutros países e aqui mesmo? Tipo Ismael...
Da maneira como foi investigado este aborto juridico?
Das contradições evidentes nas chamadas testemunhas importantes?
Lembram-se das noticias falseadas, sem fundamento, mas que serviram para levar a opinião publica deste País a seguir uma determinada direcção?
Bem, esse jornalismo tambem tem o seu momento de glória.....


O erro e a falta de rigor são maiores pecados do jornalismo actual
23 Dezembro 2010 00:01
Filipe Pacheco - filipepacheco@negocios.pt

As conclusões são de um estudo do Obercom - "Desafios do Jornalismo" - a partir de um inquérito a jornalistas

Os erros factuais na produção noticiosa e o menor interesse na abordagem de assuntos de maior complexidade, são alguns dos pontos críticos na prática jornalística actual. Estas são algumas da conclusões retiradas do estudo "Desafios do Jornalismo", da responsabilidade da Obercom, que coloca em relevo o olhar dos jornalistas sobre múltiplas dimensões da profissão. Da análise, composta por uma amostra de 212 profissionais da comunicação social, conclui-se que a larga maioria dos jornalistas considera que as notícias estão "cada vez mais cheias de erros factuais". Ou seja, mais de metade dos inquiridos considera que, aliado a esse aspecto, as peças jornalísticas são tratadas de forma cada vez menos rigorosa e precisa.

eu acrescento.. com cacete!
é muito jornalista incompetente!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

As coisas pertinentes que os outros dizem...

CUIDADO COM AS SUSPEITAS
Naquele momento, Sarkozy contra-atacou e acusou os jornalistas de serem pedófilos. Não tinha provas. Mas era a sua convicção.
É claro que tudo aquilo pretendia ser uma lição. É que os mesmos jornalistas questionavam-no sobre qualquer questão sensível, em que o presidente francês era acusado.
O que ele queria dizer, no fundo, é que estava inocente e que, quando se quer denegrir alguém, basta levantar uma suspeita.
De facto, é preciso ter muito cuidado e também confiança nas autoridades. A honra das pessoas é um direito fundamental. Até provas em contrário, não é concebível pô-lo em causa.
Meredith Maran acusou o pai de incesto. Adolescente, estava contaminada com os relatos de abuso sexual. Mais tarde, viria a reconhecer que tudo era falso.
Há que regenerar a nossa vida. Já há muitos problemas no mundo. O que não podemos é ficcionar um criminoso em cada esquina.
Para problemática, já basta a realidade. Não nos atormentemos com a ficção.

Isto vem no theosfera.blogs.sapo
mas achei muito interessante o comentário a propósito disto....
:De António a 27 de Novembro de 2010 às 17:16
Carlos Cruz também foi acusado de ter cometido graves crimes sexuais contra menor. E ,se é culpado, não tem que se queixar de mais ninguém, senão dele próprio. Ouvi, contudo, a entrevista dada pelo acusador Francisco Guerra à Judite de Sousa e logo aí fiquei convencido de que algo não batia certo: o facto de o acusador ter referido que desconhecia a pessoa pública que Carlos Cruz há muitos anos é. Isso não é aceitável mesmo que, à data da ocorrência dos supostos factos, ele tivesse 13 anos. Por outro lado, no blogue de defesa de Carlos Cruz, através dos vídeos disponíveis na Internet, pode-se ver claramente que era impossível ter havido no espaço das escadas da casa de Elvas a sala de espera que Francisco Guerra pretendeu localizar na respectiva reconstituição. Tanto mais que o Tribunal não considerou credível essa afirmação. As diversas testemunhas que foram ouvidas sobre esse ponto, incluindo o construtor dessa casa, afirmaram peremptoriamente que a casa nunca sofrera alterações estruturais desde a sua construção. Então,se assim é, das duas uma: ou Francisco Guerra está equivocado em relação à casa ou está a mentir. Além do mais, Carlos Cruz foi acusado de ter cometido os alegados abusos num sábado. Facto que o Tribunal também não considerou provado. Perante tamanha inconcludência de afirmações de Francisco Guerra, pergunto-me como é que foi possível Carlos Cruz ter sido condenado, quando os tribunais estão legalmente obrigados a inocentar em caso de dúvida ? Seja como for, alguma monstruosidade aconteceu: ou porque Carlos Cruz abusou sexualmente de menor e é culpado ou porque Francisco Guerra está a mentir e Carlos Cuz foi injustamente condenado...
nem mais....

A realidade e os holofotes

Antes demais quero desejar a todos os leitores as maiores felicidades neste novo ano que se aproxima, por razões profissionais e não só, estive ausente do País e só á pouco regressei ao Burundi...

Andava entretido a dar uma vista de olhos naquilo que foi escrito por jornalistas e bloguistas quando li esta peça.
Isto tem a ver com algumas afirmações de quem teve o seu momento de glória debaixo dos holofotes da televisão, refiro-me obviamente a francisco guerra, desta vez descambou para outro tipo de afirmação, que parece ninguem seguiu, (pelo menos as autoridades) eventualmente o namora e a pestana acompanham-no neste tipo de cruzada que a ser verdade seria tragico e preocupante, mas dito por quem é deixa-me sempre na duvída.

Vamos então á noticia.

Denúncias de rede pedófila comunicadas em Setembro
Joao Ruiz em Qua Nov 24, 2010 5:27 pm
.Denúncias de rede pedófila comunicadas em Setembro por LICÍNIO LIMAHoje
Fontes policiais garantem desconhecer rede internacional a actuar em Portugal.A Casa Pia de Lisboa (CPL) garantiu ontem em comunicado "desconhecer a existência de qualquer rede organizada de pedofilia a operar dentro da instituição". A entidade informa que já em Setembro enviara para a Procuradoria-geral da República (PGR) as suspeitas referidas no semanário Sol pela antiga provedora Catalina Pestana. Fonte policiais, que ontem detiveram oito indivíduos por posse e partilha de pornografia infantil, garantiram ao DN não haver indícios de que haja em Portugal uma rede internacional de pedofilia.O assunto volta a adquirir actualidade no seguimento do anúncio do lançamento do livro "Uma dor silenciosa", da autoria Francisco Guerra. Este ex-aluno da CPL conta na primeira pessoa a experiência de abusos sexuais de que foi vítima na instituição de ensino. A dado passo garante que "está activa também em Portugal uma rede internacional de pedofilia que envolve as crianças e os adolescentes da Casa Pia". Trata-se de uma suspeita já recorrente. Em Outubro de 2007, Catalina Pestana deu uma grande entrevista ao semanário Sol, em que garantia: "Continua a haver abusadores dentro da Casa Pia e redes externas que usam miúdos para abusos sexuais". E acrescentava: "O procurador já abriu um inquérito."Em Setembro deste ano, a antiga provedora voltou a referir-se ao assunto num artigo de opinião no semanário Sol, onde colabora regularmente. No seguimento, os responsáveis da CPL enviaram uma carta à PGR reiterando "a sua total receptividade no apuramento de eventuais suspeitas". A instituição, no comunicado ontem emitido, refere-se a esta iniciativa, frisando que "é dever ético dos cidadãos denunciar às autoridades quaisquer suspeitas de eventuais casos de abusos de menores".Também as fontes policiais contactadas pelo DN garantem desconhecer denúncias que possam dar credibilidade ao que escreveu Francisco Guerra, com a chancela de Catalina Pestana no prefácio onde a antiga provedora reitera as afirmações ao Sol, há três anos. Também a PGR, em resposta a um pedido de esclarecimento do DN, informou que nenhum inquérito foi aberto no Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa no seguimento do anúncio do livro, cuja divulgação foi muito mais ampliada graças às alegadas suspeitas.Álvaro Guerra, presidente da Associação Rede de Cuidadores, entidade fundada também por Catalina Pestana, garantiu ao DN que há pedófilos activos em Portugal, mas disse desconhecer o envolvimento de alunos da Casa Pia. "Admito que possa haver, atendendo ao desinvestimento que se tem registado, mas de que nos têm chegado ecos", frisou.Para Adelino Granja, antigo aluno da CPL, as declarações de Francisco Guerra não têm credibilidade. "Se soubesse de alguma coisa, teria de denunciar", disse ao DN.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

francisco guerra e as mentiras....

acredito que tambem Francisco Guerra tenha sido uma vitima da Casa Pia, nunca contestei isso e não tenho uma especial animosidade em relação a ele.
Gostaria, se um dia o visse, de lhe perguntar de quem foi a ideia de implicar aquelas pessoas.
Fui criança, adolescente, e com erros e com méritos fui percorrendo a minha estrada, sem atropelar principios, respeitando as pessoas, tansmitindo aos meus, os valores basicos e fundamentais(segundo o meu conceito) da vida em sociedade.
Sou solidário, preocupa-me as situações que levam a que estes rapazes, hoje homens no que toca a idade, se tenham tornado manipuladores, mentirosos e até criminosos.
A Casa Pia de Lisboa tem tambem um historial de gente boa, de pessoas com vidas de sucesso nalgumas areas e estou-me a lembrar de João Pedro Pais, só para dar um exemplo.
Ou seja, não tenho nenhum tipo de preconceito contra a instituição ou pessoas da Casa Pia.
Mas a nossa justiça e a nossa policia meteram os pés pelas mãos neste processo!
Eu vi, e concerteza mais pessoas viram o Bernardo Teixeira dizer no Prós e Contras que tinha sido violado por um locutor de televisão mas não por Carlos Cruz.
Não tenho a pretensão de começar uma caça ás bruxas, mas tenho a sensação, até porque sempre achei que este processo era uma mentira pegada, que o Carlos Cruz foi a vitima maior de muitas incompetencias.
eu explico melhor....

Como surgem e o que caracteriza as memórias falsas

Em geral as pessoas sentem dificuldades na avaliação da origem das memórias que ocorreram próximas umas das outras no tempo, um fenómeno conhecido por monitorização da fonte (e.g., Johnson, Hashtroudi e Lindsay, 1993).
Numa prova de memória, o sujeito está confuso, incerto, mas tem de decidir de entre os eventos presentes na sua memória quais os reais e quais os que são imaginados.
Como uns e outros surgiram num contexto comum e associados a um espaço e tempo específicos, a capacidade de verificação da origem de ambos torna-se difícil de efectuar devido às similaridades que revelam em termos de robustez e nitidez.
As pessoas que revelam memórias falsas estão convencidas, muitas vezes de forma absoluta, que as suas recordações são verídicas. As pessoas acreditam estar a dizer a verdade e não a mentir.
Em termos de grau de certeza, confiança e convicção, a recordação de acontecimentos falsos é por vezes tão grande como a de acontecimentos verdadeiros.
E quem ouve ou presencia um testemunho sente uma enorme dificuldade em discernir se está perante uma descrição verdadeira ou se está perante um erro ou memória falsa.

Uma pessoa é inclinada a afirmar que uma memória actual é uma lembrança verdadeira se facilmente conseguir formar imagens de uma situação passada. Quando se consegue imaginar facilmente uma situação ou aspectos de uma situação passada, o mais provável julgar é tratar-se de um acontecimento real.
Há assim um enviesamento, predisposição ou inclinação humana para julgar que os acontecimentos falsos não produzem imagens tão facilmente acessíveis nem tão ricas como acontece com acontecimentos verdadeiros.
Mas pode não se verificar. Há pessoas com uma imaginação tão rica que facilmente convertem imagens em realidade.
Há alguns factores que contribuem para que uma informação errada, sugerida ou induzida após um acontecimento, se converta numa memória falsa. Os estudos de investigação nesta área ressaltaram os factores seguintes:
1.
Um dos principais factores é a percepção da autoridade e confiança na fonte de informação.
Um juiz, um polícia, os pais, os professores, os especialistas e os meios de comunicação funcionam em geral como fontes de informação credíveis, e uma sugestão falsa destes, induzida intencional ou acidentalmente, pode levar à formação de uma memória falsa.

2.
Um outro factor é a apresentação ou fornecimento de sugestões plausíveis. Quando num acidente, os carros se “esmagam” um contra o outro é provável e plausível que apareçam no chão vidros partidos.
Um psicoterapeuta pode ainda convencer uma paciente de que a interpretação de um sonho tem a ver com o facto de ter perdido os pais num centro comercial, uma experiência infantil bastante provável.
Mas se a sugestão é implausível, é praticamente impossível que se converta numa memória, por exemplo convencer um adulto de que foi violado pela mãe na infância ou de que esta lhe deu um clister bastante doloroso.
Mas se a sugestão sobre o clister doloroso envolver um técnico de saúde num hospital, a formação de uma memória falsa torna-se mais provável.
3.
A repetição periódica do mesmo tipo de sugestão faz aumentar a probabilidade de formação de uma memória. É neste sentido que se afirma que uma “mentira mil vezes repetida se transforma em realidade”.
Para muitos adultos normais, entre os quais se contam os estudantes universitários, não é preciso que a mentira ou sugestão seja repetida mil vezes, repeti-la três ou quatro vezes pode ser suficiente.
Os factores de repetição, plausibilidade da situação e a autoridade, actuando num ambiente de dor e medo, podem levar uma pessoa em certos casos a acreditar que cometeu ou foi o principal responsável pela ocorrência de um crime. Apesar de raros, há pessoas inocentes que confessaram ter cometido crimes.

Isto não foi invenção minha, podem ver todo o artigo aqui:
http://www.fpce.up.pt/docentes/acpinto/artigos/18_recordacoes_falsas.pdf
Amâncio da Costa Pinto
Faculdade de Psicologia e C. da Educação, Universidade do Porto, Portugal

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

o tal restaurante da ajuda....

Quando escrevi no outro dia, a 26 de novembro para ser mais exacto, que gostava de ver um jornalista confirmar aqueles almoços de que falava francisco guerra, já nessa altura era claro que eu tinha as minhas dúvidas.
Afinal, o tribunal tinha feito o trabalho de casa e tinha chamado a depor um sócio e antigo empregado desse restaurante.
Vamos portanto dar uma vista de olhos naquilo que foi dito em tribunal por esse senhor do restaurante:

"as conversas que foram feitas nesses almoços, como eu refiro no meu livro, tinha tudo a ver com o que aconteceu nestes anos todos e pouco ou nada se falava sobre a vida pessoal de cada um"

11.10.06 (em Tribunal)

Drª Marta Saramago - Olhe, ahm... Disse-nos que era empregado de restaurante.

Domingos Mendonça Aires - Sou...

Drª Marta Saramago - E empregado em que restaurante?

Domingos Mendonça Aires - Restaurante Dois e Dois. Sou empregado e sou um dos sócios.

Drª Marta Saramago - É um dos sócios, do...?

Domingos Mendonça Aires - Sou trabalhador do restaurante Dois e Dois.

Drª Marta Saramago - Dois, é Dois e Dois, ou Dois mais Dois?

(...)

Drª Marta Saramago - Muito bem. Olhe e o Sr. Dr. Manuel Abrantes, que está sentado, no sítio, no lugar, precisamente, ao lado do Sr. Carlos Silvino? Conhece?

Domingos Mendonça Aires - Não senhor, só pela televisão.

Drª Marta Saramago - Só da televisão. Mas não se lembra de o ver lá nunca? No restaurante?

Domingos Mendonça Aires - Não senhor.

Drª Marta Saramago - Nomeadamente, na companhia do Sr. Carlos Silvino?

Domingos Mendonça Aires - Nunca. Nunca o vi.

Drª Marta Saramago - Muito bem. Outra pergunta, o senhor enquanto, desde que trabalha no restaurante, alguma vez lá viu o Sr. Carlos Cruz?

Domingos Mendonça Aires - Não senhora.

Drª Marta Saramago - Sabe quem é o Sr. Carlos Cruz?

Domingos Mendonça Aires - Sei quem é pela televisão.

Drª Marta Saramago - Pela televisão! Nunca o lá viu?

Domingos Mendonça Aires - Nunca o lá vi, não o conheço pessoalmente.

Drª Marta Saramago - Olhe e mesmo sem o ter lá visto, alguma vez lhe foi contado pelos seus colegas, ou por alguém, lá no restaurante, que o Sr. Carlos Cruz lá tivesse ido na companhia do Sr. Carlos Silvino?

Domingos Mendonça Aires - Ahm... Não, nunca lá foi, mesmo... é assim: nós não temos por hábito chegar no dia a seguir, por exemplo, eu saio mais cedo, chegar lá, e olhe que veio, trabalhou, podemos conversar a, trabalhou-se bem, não se trabalhou bem, não estamos cá, mas nunca, aliás se o Sr. Carlos Cruz lá chegasse a ter ido, isso toda a gente sabia.

Drª Marta Saramago - Toda a gente falava?

Domingos Mendonça Aires - É lógico, é mais que provável.

(...)

Dr. Hélio Garcia - Referiu que nunca viu o Sr. Carlos Cruz no restaurante com o Sr. Carlos Silvino, não verdade?

Domingos Mendonça Aires - Nunca. Eu conheço o Sr. Carlos Cruz do famoso concurso 1, 2, 3, e... Pronto, a partir daí...

Dr. Hélio Garcia - Mas refere-se, refere-se aos períodos de Sábado e Domingo à noite, aos fins de semana?

Domingos Mendonça Aires - Sim, sim.

Dr. Hélio Garcia - Mas não exclui a hipótese de ele lá ter ido durante a semana?

Domingos Mendonça Aires - Isso é quase impossível acontecer, porque se isso acontecesse, eu acho que toda a rua sabia e toda a gente sabia porque a figura do Sr. Carlos Cruz, uma figura pública e isso, toda a gente sabia. Não tenho dúvidas nenhumas que se ele tivesse aparecido lá toda a gente sabia ali no dia a seguir.

(...)

Juíza Presidente - Qual é a sua profissão?

José António Fernandes Dias - Cozinheiro.

Juíza Presidente - O senhor trabalha onde?

José António Fernandes Dias - No restaurante, na churrasqueira Dois e Dois.

José António Fernandes Dias - Como sócio, como sócio. Como sócio desde 2000 (dois mil), só que, entretanto, antes era empregado e depois passei a sócio.

(...)

Drª Marta Saramago -(..) Bom, é sócio desde 2000 (dois mil)?

José António Fernandes Dias - Sim.

Drª Marta Saramago - E antes de 2000 (dois mil), já lá trabalhava?

José António Fernandes Dias - Já, já lá trabalhava.

Drª Marta Saramago - Desde?

José António Fernandes Dias - Diga, diga?

Drª Marta Saramago - Desde quando?

José António Fernandes Dias - Hum... Agora estive lá uns seis anos, cinco...

Drª Marta Saramago - Seis anos antes de 2000 (dois mil), é isso?

(...)

Drª Marta Saramago - Olhe uma última pergunta. Lembra-se alguma vez ter visto no restaurante, ou de lhe terem contado que lá tivesse estado o Sr. Carlos Cruz?

José António Fernandes Dias - Também não. Lá não.

Drª Marta Saramago - Nunca?

José António Fernandes Dias - Nunca.

****
por estas e outras que não vou comprar o livro....

domingo, 28 de novembro de 2010

A cunhada do Ismael e o francisco guerra

Isto aconteceu bem perto de Lisboa na simpatica vila de Benavente, é um exemplo de como uma pessoa mentirosa , com tendencia para a enfabulação pode fazer.
Conhecem alguem assim?

a justiça nunca se engana....

Durante este fim de semana fui analizando aquilo que se escreveu sobre a entrevista de francisco guerra, as opiniões na generalidade vão em sentido oposto aquilo que para mim é muito óbvio, que a justiça mais uma vez se enganou!
Uma das frases mais frequentes é que os condenados deviam esperar na prisão pelo resultado do recurso, nalguns casos dizem-se barbaridades que me envergonham como Português, sou da opinião que o estado não deve aplicar uma pena que não possa resarcir em caso de engano, parece que algumas pessoas não são dessa opinião e parece-me que isso tem uma explicação facil, nunca foram confrontados com uma má aplicação da justiça.
Penso que até Carlos Cruz antes de ter sido acusado nunca imaginou que isto pudesse acontecer.
A coisa curiosa é que este tipo de situação é mais frequente do que se possa imaginar, e não é só em Portugal que acontece, o caso de Carlos Cruz apenas me fez compilar uma série de más decisões da justiça nas mais variadas latitudes.
Voltando ao francisco guerra, está referenciado nos relatórios sociais da Casa Pia como sendo "mentiroso, com tendência para a enfabulação, problemático e conflituoso".
É um excelente mentiroso com um senão, é esquecido e isso é fatal...
No minuto 29,35 ele afirma que: "sou um espectador atento da comunicação social e vejo muita televisão" depois um breve espaço de tempo, lembra-se daquilo que já tinha afirmado e diz: actualmente.....
Como diria o saudoso Vasco Santana para o Antonio Silva..aguas para o Cartaxo? compreendido...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

a entrevista do francisco guerra

A pedido de várias familias achei que era hora de fazer um comentário á entrevista de francisco guerra, para começar vou focar 2 pontos que eu acho muito relevantes e que por aquilo que li nos diversos blogues dá a sensação que foram pormenores sem importancia.
quanto a mim não é assim!
Começemos pelas declarações:
aos 10 minutos afirma que não sabia que Carlos Cruz era uma figura publica....
esta para mim está óptima, não estamos a falar de uma criança com 2 anos de idade, mas enfim...
mas ao minuto 12 sensivelmente, á pergunta de ter almoçado algumas vezes com estes personagens num restaurante na Ajuda, consegue deixar-me mais baralhado com a resposta.
"as conversas que foram feitas nesses almoços, como eu refiro no meu livro, tinha tudo a ver com o que aconteceu nestes anos todos e pouco ou nada se falava sobre a vida pessoal de cada um"
Nestes anos todos?
mas isso aconteceu quando?
Por acaso algum jornalista foi a esse restaurante confirmar a veracidade dessas declarações?

Aconselho a propósito ler a parte do artigo da focus que abordam o comportamento social deste novo escritor que tá disponivél aqui:
http://carlos-averdadeacruzblogspotcom.blogspot.com/2010/09/comeca-se-entender-o-mecanismo.html
Tem tambem esta afirmação curiosa para um fulano que não sabia que Carlos Cruz era uma figura publica
minuto 19,57:
"alem de estar de livre vontade, eu estou com um grande orgulho em estar aqui,porque eu gosto muito do seu trabalho, é uma jornalista sem dúvida notavél, e apreciei durante muitos anos o seu trabalho"
?????
explica lá esta afirmação...:"apreciei durante muitos anos o seu trabalho" e durante esses anos nunca viste acidentalmente nada de Carlos Cruz?

Sobre a casa de Elvas nem quero comentar mais, já toda a gente viu o video da casa e do teatro, este rapaz é aquele que andava lá com o gorro que não dizia coisa com coisa, ele ter mentido sobre a casa de Elvas proporcionou inclusive a inquirição do construtor da obra.

Eis o que foi dito em tribunal por quem construiu a habitacão:
Eduardo Ildefonso em audiência de julgamento de 22 de Janeiro de 2007
Construtor da casa de D. Gertrudes bem como de muitas outras na mesma rua

Dr. Manuel Silva - O mestre Eduardo voltou aquela casa recentemente?
Eduardo Ildefonso - Voltei sim Sr., para ter uma certeza do que aqui vinha dizer, eu voltei lá
Dr. Manuel Silva - Quando?
Eduardo Ildefonso - Ó Sr. Dr. foi na semana passada
Dr. Manuel Silva - Ai teve lá na semana passada?
Eduardo Ildefonso - Tive sim Sr.
Dr. Manuel Silva - O que é que viu lá, foi o que o Sr. fez, ou tinham alterado a sua obra?
Eduardo Ildefonso - Nada Sr. Dr., tudo que eu fiz, é tudo o que está lá. Não houve a mínima alteração em coisa nenhuma.
Dr. Manuel Silva - A escada do primeiro andar
Eduardo Ildefonso - É uma escada em mármore que eu fiz do rés-do-chão para o primeiro andar. É a escada que lá está.
Dr. Manuel Silva - Mestre Eduardo, uma coisa que já aqui tem levantado problemas, ou já alguém levantou aqui problemas, aquela casa tem um sótão.
Eduardo Ildefonso - Tem sim Sr.
Dr. Manuel Silva - E esse sótão como está? Foi o Sr. que o fez?
Eduardo Ildefonso - Fui eu que o fiz sim Sr.
Dr. Manuel Silva - Porque é que fez aquilo assim?
Eduardo Ildefonso - Sr. Dr. antigamente o Sr. conhece-me ali há mais de trinta anos a construir, e naquela zona fiz quase aquela parte da Piedade, fiz eu quase toda. E então, era por hábito, por intermédio do Sequeirinha que não fazia nada, aproveitava os sótãos para quê ? Dava mais acesso ao telhado, partia-se uma telha, levava uma placazinha tornava o primeiro andar mais fresco, e eu continuei a fazer os sótãos, era um bocadito mais rentável, pois sempre recebia mais alguns tostões enquanto fazia sótãos. A Dª Gertrudes também tem lá um sótão.
Dr. Manuel Silva - Portanto, o sótão também está, como foi feito por si?
Eduardo Ildefonso - Tal e qual. Eu estive lá a ver, tive a preocupação antes de vir aqui, ir ver tudo por tudo. Para não vir aqui dizer coisas que não devo dizer.
Dr. Manuel Silva - Portanto o Sr. pode assegurar ao tribunal que não há nenhuma modificação?
Eduardo Ildefonso - Eu posso jurar por tudo, que não há, modificação nenhuma.

Ps) Dr Manuel Silva, advogado de gertrude nunes

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

o legalices e o correio da manhã

Diz o ricardo sardo com toda a razão....

A sarjeta de Dâmaso
Nunca comprei o Correio da Manhã e nunca o comprarei. Dou, habitualmente, uma espreitadela no café (é o único jornal lá disponível) mas mais para ler algumas opiniões. Nunca o comprei e nunca o comprarei, poi não considero a actividade praticada pelos "funcionários" do CM como "jornalismo". Aquilo tem tanto de jornalismo quanto a minha profissão de engenharia...
Isto vem a propósito de um artigo (alguns poderão chamar-lhe de "notícia"...) publicado no sábado, sobre certas conversas privadas de uma eurodeputada socialista. Como aqui explicado por um jornalista (este sim, é jornalista na verdadeira acepção da palavra), o artigo é um acto de pulhice e, pior, é demonstrativo da cultura praticada naquela casa, que há muito se dedicou (e se especializou) em julgamentos sumários nas páginas do jornal (geralmente, sem direito a contraditório ou defesa) e ao "jornalismo paparazzi", que vasculha a intimidade a privacidade das figuras públicas, sobretudo políticos. Contrata para as suas fileiras pessoas como Paulo Pinto Mascarenhas, que tem a ética e a moral que todos conhecemos e que mostrou com o artigo, publicado no jornal i (onde então trabalhava), sobre o autor do blogue O Jumento. Enquanto o jornalismo visa informar e transmitir informação aos leitores, aos cidadãos (daí o seu interesse e o seu valor enquanto actividade pública), o CM visa denegrir a imagem de pessoas, violando os seus mais básicos direitos enquanto cidadãos.
Nem vou entrar na questão das conversas publicadas, pois sobre escutas já disse tudo o que tinha a dizer, nomeadamente aqui. A divulgação destas conversas é ilegal e não existe "interesse público" que valha a Dâmaso & Ca. Tivéssemos um Ministério Público atento, corajoso, menos preocupado em fazer guerra ao governo e o jornal já tinha sido processado por violação ao segredo de justiça e já tinha sido aberta uma investigação séria sobre a fonte da violação, de modo a descobrir quem, de dentro da Justiça e do grupo - extremamente restricto - de pessoas com acesso às conversas, se chibou para o CM. Porque toda a gente sabe que o jornal tem imensos contactos nas polícias e nas magistraturas, sobretudo a do MP, mas ninguém tem a coragem de o denunciar. E é também por causa disto que este país está como está e não sai da cepa torta.

infelizmente....

Infelizmente são tantas coisas que acaba por ser dificil enumera-las todas, sou pai e preocupa-me este tipo de situações, mas não é menos grave que uma criança minta e possa colocar na prisão um inocente.

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/criancas-nao-sofreram-abusos/160541

e que tal um observatório da justiça?

Todos os dias somos confrontados com más decisões na justiça, o facto é que em certos trabalhos e profissões não existe grande margem para erros, a justiça é uma delas...

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/adn-salva-falso-violador-da-prisao221031093

confiar em quem acusa apenas porque sim?

Confiar na palavra de quem acusa apenas porque sim por vezes leva a casos que nunca podem ser reparados.

Imaginem que dois adolescentes vos acusam de qualquer crime, no caso de abuso sexual basta eles já terem uma ligação a essa area de prostituição masculina para terem concerteza sinais fisicos que já tiveram relações muito intimas.

Como é um crime que normalmente se faz na intimidade é dificil alguem defender-se mesmo que seja a maior mentira, nestes casos existe outra agravante, pela privacicade do acto em si, o alegado "abusador" não tem como se defender!

E nós sabemos que nestes caos concretos o dificil é apresentar provas que não cometeu o crime...

http://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?contentid=A17B1206-7153-4A0C-8A5F-4F8D02256025&channelid=00000010-0000-0000-0000-000000000010

a propósito do Saramago...

Sobre a justiça:
Não me preocupa tanto a justiça não ser perfeita, preocupa-me que não se faça nada para a melhorar.....

JUSTIÇA
José Saramago

"... a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça.Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exacto e rigoroso sinônimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso os determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em ação, uma justiça em que se manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste."

Caryl Chessman

Morreu na camara a gás em 2 de maio de 1960, a justiça americana nunca conseguiu dar a mão á palmatória, á semelhança do que tem acontecido noutros casos a que já fiz referencia neste blog.
A carta manuscrita por Chessman horas antes de sua morte e endereçada a um repórter do jornal San Francisco Examiner. Publicada na edição do dia seguinte à execução de Chessman, a carta-testamento se firmou como um dos mais vigorosos libelos contra a pena de morte.
Ei-la:

"Caro Sr. Stevens:
"Como deve saber, os carrascos, na Califórnia obedecem a horário de bancos. Nunca executam alguém antes das dez da manhã e nunca depois das quatro da tarde. Quando ler esta carta, já eles me terão executado. Terei trocado o esquecimento por um incrível pesadelo que durou 12 anos. E o senhor terá presenciado o ato final ritualístico. Espero e confio em que o senhor será capaz de transmitir a seus leitores que morri com dignidade, sem medo animal e sem bravatas. Devo isto a mim mesmo, mas devo mais a muitos outros. A hora da morte chegará a mim dentro de poucos minutos. Resta-me de vida, segundo suponho, menos de dezoito horas. Passarei estas horas numa das celas, a alguns passos da câmara de gás".
"... Eu desejava continuar vivendo. Acreditei apaixonadamente que poderia oferecer uma contribuição com meus livros, não só à literatura, como à minha sociedade. Eu estava determinado a retribuir, assim, às milhares de pessoas de tantas nações que me defenderam e acreditaram em Caryl Chessman como ser humano. Eu teria tido grande satisfação e um sentimento de nobres objetivos se tivesse sobrevivido, para justificar seu compreensivo julgamento. Mas um severo destino, revestido de roupagens jurídicas, decretou minha morte numa pequena sala octogonal, pintada de verde".(...)
"Chegou a hora, em suma, de morrer. Então assim acreditam muitos funcionários da Califórnia o Estado estará vingado e vingado estará seu sistema de Justiça retributiva. O Estado terá acalmado seu espírito de vingança. Mas, vingança contra o quê? Câmaras de gás podem matar gente e não contrafações de sinistros e arrependidos criminosos lendários, "monstros mitológicos".
"Face a face com a morte repito enfaticamente e sem hesitação: jamais fui o famoso "bandido da luz vermelha". O Estado da Califórnia condenou o homem errado, teimosamente recusou-se a admitir a possibilidade de seu erro, e muito menos, a corrigi-lo. O mundo terá em tempo provas deste monstruoso e selvagem erro. Não se orgulhará desses fatos. Mas, ponhamos aqui de lado a questão de culpa ou inocência. O que me impele a escrever esta carta é minha firme convicção de que neste drama está envolvido algo mais que a morte de um homem.
"(...) Vou morrer com conhecimento de que deixo atrás de mim outros homens vivendo seus últimos dias no corredor da morte. Declaro aqui que a prática de matar ritualmente e premeditadamente outros homens envergonha e macula nossa civilização, sem nada resolver contra aqueles que se lançam violentamente contra a sociedade e eles próprios.
"Assim, poderemos encontrar solução racional e humana para o problema que a sociedade deve fazer com tais seres humanos. Este problema não deve jamais ser enterrado juntamente com o homem executado e suas vítimas. Ele não será enterrado junto comigo. Escolhi meu próprio caminho para chamar a atenção mundial para os corredores da morte e câmaras de gás. Não encaro a mim mesmo como um herói ou mártir.
Pelo contrário, sou, ou louco confesso, profundamente consciente da natureza e qualidade dos loucos erros cometidos em meus anos de rebelde juventude. Não espero parecer grandiloqüente e didático. Mas, estas são crenças que ardem dentro de mim mais luminosamente que a minha esperança de sobreviver. Morrendo, devo reafirmar esta crença e exprimir minha última esperança de que estes que saíram em minha defesa continuem lutando contra as câmaras de gás, contra os carrascos e contra a justiça vingativa. Certamente mereceremos algo melhor. Extingue-se meu tempo. Devo encerrar aqui minha carta. Sinceramente, Caryl Chessman".

mia couto

Companheiros
Mia Couto*


quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho

e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados

deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros

mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça

por ora
basta-me o arco-íris

em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço

companheiros

*Mia Couto, de Moçambique,
um dos maiores poetas africanos em língua portuguesa

bocage não é só rir...

O CONDENADO



"Folga a Justiça e geme a natureza"
Bocage

Alma feita somente de granito,
Condenada a sofrer cruel tortura
Pela rua sombria d’amargura
- Ei-lo que passa - réprobo maldito.

Olhar ao chão cravado e sempre fito,
Parece contemplar a sepultura
Das suas ilusões que a desventura
Desfez em pó no hórrido delito.

E, à cruz da expiação subindo mudo,
A vida a lhe fugir já sente prestes
Quando ao golpe do algoz, calou-se tudo.

O mundo é um sepulcro de tristeza.
Ali, por entre matas de ciprestes,
Folga a justiça e geme a natureza.

todos os dias má aplicação de justiça....


Quase todos os dias somos confrontados com erros judiciários, alguns são demasiado crueis.
Aliás é por causa disso que sou contra a pena de morte, como não existe a possibilidade de resarcir em caso de erro é melhor não a aplicar!
Este caso aconteceu nos estados unidos e não existe indemnização que possa reparar um erro desta dimensão.
Americano acusado injustamente de
estupro passa 27 anos na prisão
Michael Green foi libertado graças a testes de DNA que comprovaram sua inocência


Imagem do jornal americano de The New York Times mostra Michael Green, de 45 anos, que passou 27 anos na cadeia por estupro que não cometeu

.O americano Michael Green, de 45 anos, vive um dilema: aceitar compensações no valor de 2,2 milhões de dolares pelos 27 anos que passou injustamente na cadeia ou entrar com um processo contra o Estado do Texas, nos Estados Unidos, para revelar a verdade sobre o julgamento de estupro que o levou à prisão.

Há alguma indemnização que pague pela liberdade perdida de um inocente?

Em entrevista ao jornal The New York Times, Green - disse que ainda não se decidiu, apesar de considerar que o dinheiro oferecido pelo Estado não é suficiente para pagar pelo tempo que ficou preso.

- O que eu realmente preciso é fazer com que eles paguem pelo que fizeram comigo. Os US$ 2,2 milhões são nada comparados aos 27 anos da minha vida em que passei por tortura mental e abusos físicos.

O drama de 27 anos de encarceramento do americano só teve fim graças ao trabalho de um novo escritório da promotoria do condado de Harris, que conseguiu provar por meio de exames de DNA que o crime de que Green foi considerado culpado, em 1983, não tinha sido cometido por ele.

Na noite do dia 18 de abril de 1983, Green caminhava para casa quando uma mulher foi sequestrada e estuprada por quatro homens em um carro roubado. O americano foi um dos vários suspeitos detidos pela polícia nas imediações, mas a vítima não conseguiu identificá-lo.

Uma semana mais tarde, a polícia prendeu Green após ele roubar e bater um carro. As autoridades voltaram a apresentá-lo à vítima de estupro, que desta vez o "escolheu" em uma linha de suspeitos. No julgamento que se seguiu, o americano, na época com 18 anos, foi condenado a 75 anos de prisão.

De acordo com o New York Times, a prova da inocência de Green 27 anos mais tarde joga luz sobre um dos principais problemas da Justiça dos EUA: a suposta falta de credibilidade das identificações de suspeitos por vítimas em delegacias.

Segundo o jornal, mais de três quartos das 258 pessoas libertadas após testes de DNA nos últimos dez anos foram condenados com base em identificações visuais feitas por testemunhas ou vítimas

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

País - Jornalista Patrícia Lucas conta a história de um erro judiciário - RTP Noticias, Vídeo

País - Jornalista Patrícia Lucas conta a história de um erro judiciário - RTP Noticias, Vídeo

J'ai menti-Auteur : Virginie Madeira | Brigitte Vital-Durand

As crianças não mentem....
http://www.lusojornal.com/archives/unefr88.pdf


Les premières lignes
Mon père est quelqu'un de calme, de doux. Il n'est pas violent du tout. Par contre, il est têtu. À la maison, il est peu autoritaire avec moi ou avec mes frères. Avec nous, ses enfants, il ne s'énerve jamais.Mon père est mince, brun. Il est toujours en jean.Le matin, c'est lui qui m'emmenait au collège parce que c'était sur son chemin. À six heures et demie, il tapait à la porte de ma chambre pour me réveiller. Pendant qu'on prenait le petit déjeuner à la cuisine, il mettait «Télématin» sur la 2, moi, je voulais les dessins animés. Il préparait parfois des tartines, parfois des céréales, ou alors je ne voulais pas déjeuner. Il me poussait pour que je me dépêche, il fallait qu'il soit à l'heure à son travail. Moi, je ronchonnais un peu. Lui ne criait pas. Mais il me disait tout le temps : «Virginie, il est moins dix, il faut que j'arrive à l'heure... Si tu n'es pas prête, je vais appeler maman, c'est elle qui va t'emmener.» Je savais très bien qu'il n'allait pas l'appeler et que c'était lui qui allait m'accompagner.Mon père, artisan maçon, était un travailleur acharné. C'était important pour lui. C'est quelqu'un qui prend son travail à coeur. Ce n'est pas qu'il ne se souciait pas de la famille, mais il ne le montrait pas.Il avait une petite entreprise avec trois ou quatre ouvriers. Il parlait souvent de son travail quand on était à table. On mangeait, le téléphone sonnait, c'étaient des clients. Il avait son bureau à la maison, il passait son temps sur l'ordinateur à faire des devis ou des comptes.Avant mes neuf ans, on habitait un appartement à Croix-Rouge, un quartier de Reims. Après, on a déménagé à Muizon, un village à environ dix kilomètres, dans une maison que mon père a construite. Elle était grande, avec un étage et trois entrées.


La revue de presse Anne Chemin - Le Monde du 21 septembre 2006
Elle est absente à son histoire comme elle avait autrefois été absente au procès de son père : dans un livre-témoignage, Virginie Madeira, qui a aujourd'hui 21 ans, raconte sans la moindre trace de colère ou même d'émotion comment elle a menti, à 14 ans, en accusant son père de l'avoir violée pendant plusieurs années. Le ton est froid, les phrases lapidaires : "Je savais que mon père était en prison mais je ne le savais pas. Je n'arrivais pas à l'imaginer. C'est compliqué à comprendre mais je n'arrivais pas à me rendre compte que mon père était en prison ; pour moi, on ne met pas les gens en prison s'ils n'ont rien fait." Un jour du printemps 1999, pour que son amie Mélanie "s'intéresse à elle", Virginie Madeira lui raconte sous le sceau du secret que son père a "abusé" d'elle. "...Il faudra plusieurs années pour que Virginie Madeira se décide à avouer son mensonge. Un jour d'été, en 2002, un an après la condamnation de son père, elle s'assoit sur le lit de sa mère qui se repose. "Tu sais, ce n'est pas vrai tout ça, lui dit-elle simplement. - Oui, je l'ai toujours su... Je suis contente que tu aies le courage de m'en parler, répond sa mère. - Je crois qu'il faut faire sortir papa", conclut Virginie Madeira...Ce livre laisse une étrange impression d'absence, de carence, de silence. Jamais Virginie Madeira ne trouve le moindre fil qui lui permettrait de comprendre ces longues années d'indifférence au sort de son père et au monde qui l'entoure...

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

em fase de inquérito....

Num tribunal de uma cidade, o advogado de acusação chamou a sua primeira testemunha; uma velhinha de idade avançada e avó.Aproximou-se da testemunha e perguntou:"Srª. Ermelinda, a senhora conhece-me?"- Claro que te conheço. Conheço-te desde pequenino, sempre foste pequenino, mais tarde tornaste-te um mau policia,depois um mau advogado e, francamente, desiludiste-me. Mentes descaradamente, enganas a tua mulher, manipulas as pessoas e falas mal delas pelas costas. Julgas que és uma grande personalidade quando nem sequer tens inteligência suficiente nem para ser varredor. Claro que te conheço.O advogado ficou branco, sem saber que fazer. Depois de pensar um pouco; apontou para o outro extremo da sala e perguntou:- Srª Ermelinda conhece aquele senhor de barbas? Responde a velhinha:- Claro que sim. Também o conheço desde a infância. É frouxo, tem problemas com a bebida, não consegue ter uma relação normal com ninguém e na qualidade de procurador... bem, aí...é um dos piores que já vi. Não esqueço também de mencionar que engana a mulher com três mulheres diferentes, uma das quais, curiosamente, é a tua mulher. Sim, conheço-o. Claro que sim.- O defensor ficou em estado de choque.O juíz, então, pediu a ambos os advogados que se aproximassem do estrado e com uma voz muito ténue diz-lhes:- Se a algum dos dois, ocorrer perguntar à p.. da velha se me conhece, juro-vos que vão todos presos.(Recebida por e-mail, claro; muitos de vós já a conhecem, mas é para desanuviar …)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

as minhas desconfianças.....


Perguntava-me um amigo um dia desta semana depois de visitar o blog:

Porque é que achas que a justiça foi mal aplicada neste caso?


Bem, a resposta dá pano para mangas e como não sou jurista (aí acho que pode ser uma vantagem) vou tentar explicar de uma maneira que seja entendivél por qualquer mortal.

Quando um arguido é acusado de mais de 100 crimes eu penso qe estou na presença de um criminoso perigoso, quando ele depois é acusado de 50 crimes já fico curioso (onde foram parar os outros 50?)

Quanndo depois é acusado de 3 crimes (????) aí passo de curioso a desconfiado, e desculpem lá senhores responsaveis por a justiça deste País, alguma coisa aqui está mal.

No entanto, imaginemos que só foi possivel condenar porque não houve duvidas sobre esses 3 crimes que originaram a sentença.

E aí chegamos aos assistentes....a pergunta é:


Foi com base nestas declarações que eu vi no youtube?



Eu coloquei aqui este video porque o "assistente" diz quando foi ao teatro vasco santana, que o teatro não conhecia bem, só lá tinha estado "2 ou 3 vezes" pouco depois dos 5 minutos de filme ele diz que a casa de Elvas é que conhecia bem, que lá tinha ido mais vezes.

Eu pessoalmente acredito que ele conhecia a casa de Elvas quando lá foi com PJ, mas só conhecia exteriormente, porque lá dentro daquilo que se vê não pode ter estado, era impossivel terem substituido a sala da escada, nem o siza vieira conseguia fazer uma dessas....

Já agora,e com base naquilo que diz o "assistente," imaginam o Carlos Cruz entrar num teatro, com pessoas a trabalharem, actores a representarem (ele diz que os viu a irem ao camarim) e naõ haver ninguem que tivesse reparado que havia ali um abuso de menores?

Quando tinha 19 anos entrei com um colega meu num teatro de revista no parque mayer porque ele se dava bem com um dos personagens dessa revista, e que entretanto já faleceu. A coisa que me deixou mais surpreendido na altura foi a azafama nos bastidores, as diversas coreografias fazem que não existam tempos mortos!

Depois aqueles pormenores: no tecto havia projectores!

Bah, descobriu a polvora!

Se tivesse dito que tinha visto uma vaca, um regador, um pneu, e fosse confirmado que de facto tinham tido esse adereço no ambito de qualquer espetaculo aí podia até dar o beneficio da duvida, mas assim???

Que porra de argumento é esse?

Tambem podia dizer que no percurso tinha ido num automovél que tinha 4 rodas, e Carlos Cruz tinha um automovél com 4 rodas, daí o colectivo de juizes entender que o "assistente" falou a verdade, ou pelo menos, existe alguma ressonancia de verdade nessa afirmação, porque quando ele foi para o algarve, o Dias André confirmou que o veiculo tinha 4 rodas conforme se pode verificar na foto em cima....

domingo, 14 de novembro de 2010

e o arguido acidental?


Não sou daquele tipo de pessoa que critica e dispara em todas as direcções, por vezes pode dar essa impressão porque o acumular de casos na nossa justiça faz-me crer que alguma coisa se podia fazer, mas....


existe muita conversa e pouco trabalho, e o resultado é este!




sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Reparem nesta resposta...

Está numa excelente condição para nos dizer se há uma justiça para pobres e outra para ricos.

Há, de facto. O problema é complexo. Os ricos, na medida em que têm dinheiro para pagar uma boa advocacia, têm mais hipóteses, é claro. Mas também o problema se coloca quando há uma certa cultura judiciária em que se prejudica o poderoso só por se antipatizar com o poder. A uma lógica igualitária cede-se por vezes a uma lógica exemplar, de fazer daquele caso “o” caso e da Justiça uma espécie de engenharia social. A formação marxista de muitos magistrados ajuda a um certo empenhamento ideológico. Para alguns, a Justiça é uma continuação da luta de classes por outros meios...

Foi advogado da Casa Pia. Não quer explicar melhor por que saiu?
Não posso. Ser advogado é isso: ter de calar, mesmo quando não apetece. É uma relação difícil com a advocacia a minha, mas tenho orgulho em ser advogado. Filho de solicitador, ser advogado é uma honra.
Acha que vai ser feita justiça no final do julgamento?
A justiça possível ao fim de tantos anos. O que ali está é um segmento da realidade, deixou-se escapar muita coisa. A História julgará o que não está a ser julgado. A exploração sexual na Casa Pia existiu anos a fio e os jornais não deixaram de a denunciar, e também é patente que ninguém ligou nem fez nada. E um dia resolveu-se fazer algo em relação àquele microcosmos, o que é uma forma extraordinária de branquear tudo o que não se fez antes nem durante - e eis outro caso exemplar. (...)

quem disse isto foi José António Barreiros e a verdade virá ao de cima, como se diz na giria...

"A ciência do jornalista é combater a injustiça sem cair nela"

Se a história não se repete na totalidade, é pelo menos curioso quando ao abordarmos certos assuntos da nossa sociedade reparamos que eles se mantêm actuais....
Lembrei-me disto quando estava a ler um velho comunicado da Associação Portuguesa de Familias Numerosas datado de 15 de fevereiro de 2003.

Público - 15 Fev 03
Os Limites do Jornalismo
A Direcção Editorial
"A ciência do jornalista é combater a injustiça sem cair nela" escreveu um dia Milan Kundera. Por estes dias, por causa da pedofilia, muitos têm esquecido essa verdade elementarO escritor checo Milan Kundera escreveu um dia que "a ciência do jornalista é combater a injustiça sem cair nela". Eis algo que todos os jornalistas deviam ter bem presente por estes dias. Desde a prisão de Carlos Cruz, e do choque emocional que ela provocou no país, que grande parte do espaço informativo, sobretudo nas televisões, tem estado ocupado pelo tema. Tal como sucedera aquando das primeiras revelações sobre o escândalo de pedofilia de que eram, ou tinham sido, vítimas crianças da Casa Pia, que a tentação "voyeurista" se sobrepôs demasiadas vezes à serenidade. Uma coisa é o dever de informar e, sendo a pedofilia uma das maiores injustiças que se pode fazer a uma criança, o dever do jornalista era "combater a injustiça". Infelizmente já se foi muito para além disso. Foi-se quando, no início deste processo, se passou e repassou filmes de pornografia infantil nas televisões, quando se usou e abusou da memória das vítimas, quando se recolheram depoimentos avulso com acusações vagas ou suspeições que ninguém confirmaria. Foi-se agora de novo, muitas vezes voltando ao mesmo pecadilho de passar e repassar testemunhos de vítimas, outras vezes esticando até aos limites a pouca ou nenhuma informação que se possuía, por fim deixando-se os próprios jornalistas envolver emocionalmente nos casos que relatavam. O que se passou anteontem à noite, no principal serviço informativo da SIC, ultrapassa porém o imaginável. E o que ontem "O Semanário" publicou, citando a existência de listas e de nomes que delas fariam parte, envolvendo nisso um membro do Governo, ultrapassa todas as margens da decência. Num primeiro momento, alguns jornalistas, ao vestirem a capa de um qualquer justiceiro implacável, podem julgar que, para além de cumprirem o seu dever, são também eles heróis. Mais: heróis populares, reconhecidos na rua, porventura aclamados. Nesse momento, porém, violam uma regra de ouro da deontologia profissional: é que o jornalista não é notícia, dá a notícia. Quando o jornalista se coloca ele no palco na notícia, então algo está profundamente mal. Ao longo de todo este processo o PÚBLICO tem procurado manter a serenidade e fugir da facilidade. Noticiar apenas o que confirmámos várias vezes, por fontes diferentes, para evitar qualquer instrumentalização. Ir além daespuma das notícias, e do aroma inebriante do escândalo, para procurar discutir o que está por detrás de fenómenos que nos chocam e perturbam. Preferimos perder uma notícia, adiar a sua publicação porque não temos a certeza da sua veracidade, do que correr o risco de em nome da justiça, cometer uma injustiça. Até porque temos consciência que estas injustiças, pelo opóbrio que fazem cair sobre os atingidos, são irreparáveis. Outros têm seguido outros caminhos. Tão escorregadios que tememos que, quando o pano cair sobre este drama e os jornalistas se lançarem a outro tema, a sua credibilidade já esteja ferida de morte. E isso não é só grave para o jornalismo, os jornalistas e as empresas jornalísticas: é grave num país que, ao assistir assombrado à queda de todas as suas referências, ficará mais descrente, atordoado e deprimido. O jornalismo não serve apenas para vender jornais e conseguir audiências. É, ou devia ser, um serviço público. Que pena que tantos o esqueçam, tantas vezes.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

a cabrita loura....

Felícia Cabrita

A história aparentemente motivadora do escândalo em que foi envolvido José Sócrates começou com uma “notícia” da “jornalista” Felícia Cabrita, cuja credibilidade deve antes de mais ser escrutinada. Escrevia no “Expresso”, de onde foi afastada depois de várias reportagens que se revelaram falsas. Foi a mesma sujeita que incriminou Paulo Pedroso e Herman José, ambos ilibados judicialmente. Cabrita foi corrida do “Expresso”, transitou para a “Grande Reportagem” onde não chegou a aquecer lugar e finalmente aparece no semanário SOL. Base pseudo-jornalística para sustentar as manchetes e balbúrdia mediática: ela, a loira, tinha em seu poder um DVD em que um empresário inglês, Charles Smith, aparece a gabar-se de ter sido objecto de corrupção, através de um tio de Sócrates, cujo filho, sobrinho do Primeiro-Ministro, terá enviado um mail a cobrar favores.
Cada cavadela cada minhoca....

lembram-se disto?

Felícia Cabrita contou ontem em tribunal que Teresa Costa Macedo lhe indicou, baseada em relatórios dos anos 80, uma lista de figuras públicas que, de forma organizada, tentaram obter miúdos da Casa Pia para encontros sexuais.Segundo Felícia Cabrita, que em Novembro de 2002 revelou o caso Casa Pia no semanário “Expresso”, entre os nomes referenciados por Teresa Costa Macedo figuravam dois arguidos (Carlos Cruz e Jorge Ritto) deste julgamento, mas também outras figuras conhecidas da diplomacia, marinha, advocacia e política, que nunca integraram o processo.Uma das pessoas referenciadas por Teresa Costa Macedo a Felícia Cabrita e cujo nome foi dito em tribunal chegou a ser ministro dos Negócios Estrangeiros na década de 80, tendo sido ainda revelada a identidade de três embaixadores, um advogado e um almirante que pertenciam à mesma alegada organização que visava obter jovens casapianos para práticas sexuais."É falso, designadamente, que o tenha feito à jornalista Felícia Cabrita nos vários momentos e circunstâncias por esta alegadamente referidos, como aliás já declarou publicamente em Março de 2004", diz Teresa Costa Macedo em nota hoje divulgada a propósito do depoimento da jornalista no julgamento do processo Casa Pia.A antiga secretária de Estado da Família, que exerceu funções entre 1980 e 1983, diz também ser "falso que tivesse em seu poder quaisquer nomes ou listas de nomes de pessoas pretensamente implicadas" em actos de abuso sexual de menores.Segundo a ex-governante, todas as informações e documentos por si coligidos no exercício das suas funções de secretária de Estado da Família foram "oportunamente entregues às autoridades policiais competentes, tendo constituído elemento relevante do inquérito judicial então instaurado".Teresa Costa Macedo afirma que "desconhece em absoluto quaisquer factos posteriores à referida época que não sejam os divulgados pela comunicação social e que são do conhecimento público".Felícia Cabrita, a jornalista que revelou o escândalo Casa Pia no semanário “Expresso” em Novembro de 2002, prometeu que na próxima quinta-feira, dia em que continua a depor em julgamento, irá apresentar "um documento que prova que Teresa Costa Macedo mente".

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

mas existem mais....

Eu hoje acho que nem vale a pena comentar o acordão do processo casa pia, qualquer cidadão deste país consegue entender que a justiça meteu os pés pelas mãos, infelizemnte isto acontece todos os dias, uns são relatados e outros não...este por exemplo foi!

Artigo de Paulo Julião no DN no dia 15 de setembro de 2010

Esteve detido um ano e meio como suspeito de assalto ao Museu do Ouro mas acabou ilibado. Agora reclama indemnização

Nelson Aguiar tem hoje 24 anos, mas passou ano e meio numa prisão de alta segurança suspeito de ser um dos assaltantes ao Museu do Ouro Tradicional de Viana do Castelo. Durante a instrução acabaria por ser ilibado de todas as acusações, mas agora volta aos tribunais, mas para se queixar: Exige ao Estado e a quatro inspectores da Polícia Judiciária (PJ) uma indemnização de um milhão de euros.
A revelação foi feita ao DN pelo advogado, Miguel Brochado Teixeira, na véspera do arranque do julgamento do caso do violento assalto às duas ourivesarias de Viana em 2007. "Tenho perfeita consciência do que é pedir um milhão de euros, porque também sei o que é colocar um jovem de 21 anos durante ano e meio numa prisão de alta segurança. Apenas para os inspectores da PJ demonstrarem serviço ao senhor ministro da Administração Interna", acusou ontem o advogado, garantindo que esta acção "já está a correr".
Em causa, a decisão do juiz de instrução, em Abril deste ano, de não levar a julgamento Nelson Aguiar, à data dos factos com 21 anos, entre outros argumentos devido a chamadas feitas do seu telemóvel na data do assalto, 6 de Setembro de 2007, a vários quilómetros da cidade de Viana.
"Primeiro, para os investigadores, estava no sítio do assalto, depois já o colocavam a quilómetros a guardar carros. Foi preciso vir um senhor juiz para o retirar desta confusão. O problema é que já tinha estado um ano e meio preso numa ala de segurança da cadeia de Paços de Ferreira sob condições humanas tremendas", assinala ainda o advogado.
"Estes elementos já existiam no processo muito antes de ser deduzida a acusação. Foi necessário o arguido invocá-los insistentemente", sustentou ainda Miguel Teixeira, aludindo à "pressa" da investigação da PJ. Nelson aguardava o desfecho do processo de instrução em liberdade e era um dos seis arguidos, dos quais apenas um estava em prisão preventiva - os restantes foram libertados devido a um erro processual em Dezembro de 2008. No caso de Nelson, após ano e meio de prisão. "Esta decisão só demonstra que a investigação foi ajeitada, à pressa."

existem tantos exemplos..

Existem muitos exemplos infelizmente de casos que se revelam destruidores, e quando faço esta afirmação é com base em casos concretos, este li no outro dia e achei relevante porque acaba por ser tragico ....

Boa noite.
Quando morava em Lisboa, na minha rua , uma miúda da minha idade, acusou o guarda-nocturno de ter abusado dela.O Sr. Martins, era conhecido de toda a gente e muito querido no local. O caso foi a julgamento e o Sr. Martins foi absolvido por falta de provas, mas expulso do seu trabalho e da Freguesia. Mais tarde, a minha vizinha ficou doente, foi hospitalizada e estava tão mal que o padre foi chamado. A miúda pediu para se confessar e dias depois, andava o padre a bater às portas, pedindo que estivessem atentos a um "cesteiro" com loja aberta lá na rua. Não podia dar detalhes, mas fez com que a mãe da miúda fosse ao hospital falar com a filha. Entretanto, chega ao conhecimento dos vizinhos, que o Sr. Martins se tinha suicidado, na sua terra natal, no Alentejo.A mãe foi falar com a filha e veio de lá estarrecida.A miúda, tinha sido realmente abusada, porém, confidenciou depois tanto ao padre como à mãe, que acusou o guarda-nocturno, porque se fosse dizer a verdade, que era o homem que fazia cestos, levava uma tareia do pai, que já a tinha proibido de entrar na loja.Na altura, em 1968, curiosamente, os tribunais não condenavam ninguém apenas baseados em provas testemunhais, o que permitiu que o Sr. Martins saísse absolvido, mas, aos olhos das pessoas, foi automaticamente condenado, acabando por não aguentar tamanha injúria. Isto é apenas um caso, infeliz, de como uma criança abusada, sem dúvida, pode mentir e acusar um inocente, neste caso por medo de dizer a verdade...a miúda da minha rua acabou por falecer no hospital, mas nunca chegou a admitir em tribunal que tinha mentido...e o Sr. Martins, ficou para sempre lembrado como suspeito de ser um abusador, mesmo depois de se saber a verdade, da fama, não se livrou e a dúvida pairava .Neste processo da Casa Pia, os miúdos não mentiram quando se referiram aos abusos, mas mentem de certeza quanto aos abusadores...anónimos, ninguém ligaria, conhecidos, importantes, estala a certeza e sim, convenhamos, as indemnizações chorudas! Mas também não acredito que a ideia tenha sido deles...não tinham capacidade para tanto!Quando a SIC transmitiu uma reportagem sobre o parque Eduardo VII, os rapazes (prostitutos, assumido pelos próprios), fizeram questão de informar: "não fazem ideia dos figurões que por aqui passam...carros de alta cilindrada..." estava dado o mote e a ideia...dois meses mais tarde, o BIbi finalmente vai preso (já não era possível esconder mais) e claro, que isto só ia avançar se houvesse mediatismo suficiente para que algo mudasse. Afinal, a comunicação social andava a meter o nariz...tinha de ser feito alguma coisa!Se a investigação policial tivesse sido bem conduzida, hoje não estávamos aqui a comentar se X ou Y são inocentes, mas deixou-se a coisa chegar ao ponto de deixar que fosse o Povo a julgar e por favor, nem tanto ao mar, nem tanto à terra! Não é o Povo que julga...é preciso ter formação para isso!Não basta haver prova de abuso e um discurso coerente para se condenar alguém, é preciso que se prove, sem sombra de dúvida! Para condenar por aparência, estamos cá nós, os leigos e por isso nos sujeitamos a processos por difamação...Tanta gente da alta a permitir-se ser apanhado numa cena destas, a mostrarem as caras a miúdos da Casa Pia?! Porem assim as carreiras em perigo, os negócios?! E o Carlos Silvino, grandes contactos que o motorista tinha...ou também já era abusado por eles quando era aluno e tinha mantido o contacto? Tenham paciência, mas não acredito em nada disto!Claro que daria a mão à palmatória se realmente se provasse que eram mesmo culpados, mas, não acho que consigam, a não ser que indiquem exactamente as datas e locais correctos das ocorrências e para as quais não haja "alibi(?)"De preferência, que a comunicação agora se afaste e deixe os tribunais trabalharem serenamente, para poderem conseguir pôr as impressoras a cuspir papel (é que os nervos têm interferência nos aparelhos...)

Esta estória não foi inventada por mim, foi retirada de um forum e só a coloco porque entendo que as pessoas devem ganhar uma certa consciencia e não "julgarem" através dos midia....

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

há cada vez mais falsas acusações de abuso...

Desta vez trago-vos um artigo da Sónia Morais Santos que foi publicado no DN em 14 de janeiro de 2007....

"O pai põe a pilinha na mão." Mafalda, então com três anos, não podia imaginar que aquela frase, repetida com a surpresa típica de quem descobre o sexo oposto, iria provocar a derrocada da sua família.
Manuel também não podia prever que a frase, repetida pela mulher em tom inquisidor, seria o princípio de um pesadelo que ainda está longe de terminar. "A mãe da Mafalda ficou imediatamente nervosa com aquilo. Para mim era simples. A criança devia ter-me visto a fazer chichi e estaria surpreendida porque eu não fazia chichi como ela. Era só a descoberta da sexualidade a despontar. Mais nada." Mas para a mãe da Mafalda e da Francisca, aquilo era o indício de algo tenebroso. Tornou-se obcecada.
Manuel, por sua vez, tentava suportar a desconfiança. "Sentia-me sempre vigiado. A avó materna chegou a considerar abuso o facto de pôr as miúdas no colo e fazer 'cavalinho'. Achava que aqueles movimentos tinham uma carga altamente sexual. Para evitar problemas, deixei de lhes mudar as fraldas, deixei de lhes dar banho, e já nem sabia bem o que podia ou não ser considerado estranho. Sentia-me encurralado."
A psicóloga Isabel Leal não se surpreende. "Casos como esse são o pão nosso de cada dia no meu consultório. Desde que rebentou o escândalo casa Pia tornou-se uma situação comum." Para algumas pessoas, o perigo passou a espreitar em cada esquina e até mesmo no interior de casa.
Mesmo encurralado, Manuel aguentou dois anos. Depois, percebendo que a mulher tinha iniciado "uma cruzada para descobrir a verdade que ela tinha fantasiado", desistiu. Saiu de casa, não sem antes sugerir que a mulher arranjasse um pedopsiquiatra que acompanhasse as crianças e apurasse a verdade. No final, a pedopsiquiatra disse não ver quaisquer indícios de abuso. Como não era isso que a mãe queria ouvir, a cruzada continuou. Em 2003, a mãe das crianças interpôs uma queixa-crime por abuso sexual contra Manuel. O pai ficou impedido de ver as crianças até saírem os relatórios dos especialistas.
Para a psicóloga e mediadora familiar Maria Saldanha Pinto Ribeiro, tão acostumada a casos destes que vai publicar um livro sobre o assunto (ver entrevista na página ao lado), este é um erro grave da justiça. "O pai não devia ser isolado, devia poder ter visitas, acompanhado por outros membros da sua família." Mas a questão que defende é ainda mais profunda: "O que os juízes deviam verificar é que, nos tribunais de menores, quando são detectados assédios, raramente ou nunca a acusação parte das mães. Pelo contrário, no tribunal de família, no contexto de um divórcio, as acusações vêm sempre das mães. Isto não os faz pensar?"
Armando Leandro, presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, confessa já ter ouvido falar nestes casos de falsas insinuações de abuso sexual, sobretudo no âmbito de um divórcio litigioso, mas não tem dados científicos que lhe permitam falar em concreto. Porém, defende: "Se o fenómeno existe - e parece que sim -, é preciso tomarmos precauções sérias, uma vez que se trata de uma violação clara dos direitos da criança, para além de ser uma violação dos direitos do progenitor." Para Armando Leandro, é urgente perceber "a extensão do fenómeno e procurar que o diagnóstico seja o mais rápido possível".
O primeiro relatório psicológico feito às crianças era positivo e Manuel passou a ter um regime de visitas limitado: quatro horas no sábado, quatro horas no domingo, e a permissão para as ir buscar à escola num dia da semana. Furiosa com a proximidade entre pai e filhas, a mãe entregou no tribunal uma cassete de vídeo que lhe dá a volta ao estômago: "Vê-se a mãe a conduzir a entrevista e a perguntar às minhas filhas: 'Então, onde é que ele te mexe? É aí em baixo, não é? E tira-te as calças, não é?' O tribunal desvalorizou completamente. Mas eu acho que não devia. Aquilo é a prova de que ela não está bem." Além do vídeo, a mãe alega que Manuel a agrediu. E surgem mais dois relatórios que deixam no ar a dúvida sobre um eventual abuso sexual. As visitas são interrompidas.
Já passaram três anos desde que a mãe da Mafalda e da Francisca interpôs uma queixa-crime por abuso sexual contra Manuel. Já passaram três anos desde que Manuel viu as filhas pela última vez. A queixa-crime acabou de ser arquivada, porque o juiz considerou não ter qualquer fundamento. O julgamento que irá regular o poder paternal está marcado para Fevereiro. Manuel tem saudades das filhas mas sabe que tanto tempo de ausência e de indução de medo quebraram laços que nunca deviam ter sido quebrados. Resta saber se ainda há forma de os recuperar.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

com a devida vénia as palavras de brissos lino...

O Processo da Casa Ímpia

O processo Casa Pia enfermou de duas “doenças” fatais, pelo menos. Por um lado o seu tamanho mastodôntico, que acabou por produzir um acórdão com quase duas mil páginas e por outro lado a sua excessiva mediatização, sempre associada a criminosas, quanto impunes, violações do segredo de justiça. É minha convicção que qualquer dos dois factores prejudicou a boa administração da justiça, que competia ao tribunal, em nome do povo.
O processo Casa Pia é essencialmente o processo Carlos Silvino, até pelo número inacreditável de crimes de que vinha acusado. Todavia, para a opinião pública, era essencialmente o processo Carlos Cruz. Mas há coisas que nos deixam desconfortáveis no texto desta sentença.

Por um lado o “modus faciendi” dos crimes parece estranhamente fotocopiado uns dos outros, como se os acusados tivessem ensaiado previamente a liturgia dos abusos.

Depois, as datas (e alguns locais) dos crimes são demasiado indeterminadas. A expressão “em dia não concretamente apurado” é recorrente. Repare-se no que se diz, a dado passo da sentença: “E permitindo, a análise que antecede, o Tribunal concluir que as situações em que objectivamente ocorrem discrepâncias nas declarações do arguido Carlos Silvino da Silva quanto a datas, locais, dias, momentos do dia, particularidades de locais – como é uma das situações, por exemplo, da - Avenida das Forças Armadas -, não têm como única explicação a mentira.”

Ou então este naco: “O facto de o arguido Carlos Pereira Cruz não ter sido visto naquele prédio, não exclui a possibilidade de lá ter estado, como afirma o assistente e o arguido Carlos Silvino da Silva.” Como diria o senhor de La Palisse. E eu acrescento que, se a minha avó não tivesse morrido ainda hoje era viva…

Ainda se compreendem menos as inocentes tentativas de justificação do tribunal, exaradas no acórdão, relativas tanto à pressão da comunicação social como à suspeita de que esta estória teria sido armada com a conivência da PJ.

Porém, se o tribunal tivesse optado por separar o processo de Carlos Silvino dos restantes, teríamos certamente ganhos substanciais, já que este arguido vinha acusado de largas dezenas de crimes de diversa natureza, mais do que os outros todos juntos.

Mais do que qualquer dos condenados, o grande culpado de tudo isto é o Estado, que não soube salvaguardar e proteger as crianças entregues à sua guarda, ainda por cima vindo a maior parte das vítimas de famílias desestruturadas, e revelando-se, à época, tão fragilizadas pessoalmente e condicionadas no seu desenvolvimento.

E o maior culpado, afinal, só não passa inteiramente impune porque terá que desembolsar as indemnizações respeitantes às condenações cíveis, no caso do arguido Carlos Silvino, por falta de meios próprios para o efeito. E mais uma vez somos nós todos a pagar. Responsabilidades personalizadas, de quem dirigiu a instituição no tempo desses crimes, ou da tutela não existem.

Dado o estado comatoso em que se encontra a justiça portuguesa, ninguém estava à espera de grande coisa.

domingo, 24 de outubro de 2010

Podem gastar uns minutinhos por favor?

ANÁLISE DO PROCESSO CASA PIA
Quando se comete um crime, um ilícito, ou qualquer outra ilegalidade, o investigador procede ao levantamento pericial do caso em ordem a tentar responder às seguintes perguntas:
Quando? - (balizar temporalmente o crime)
Onde? - (determinar o lugar/lugares do crime)
Quem? - (autores, vítimas, testemunhas oculares)
Como? - (actos em si, deslocações, armas, etc.)
Porquê? - (móbil, a quem interessa, dividendos, etc.)Nos crimes imputados ao ex-apresentador Carlos Cruz, menciono só este arguido do caso pois é o único que tem peças processuais publicadas, desses crimes, dizia eu que importa, então, aferir e responder àquelas cinco perguntas.
Quando?Na Pronúncia os crimes imputados a Carlos Cruz e pelos quais veio a ser condenado, são:"Dois de abuso sexual de crianças com LM nas Av. das Forças Armadas balizados temporalmente em Dezembro de 1999 ou Janeiro de 2000 e um ou dois meses depois. Portanto até Março de 2000."
A localização temporal destes dois crimes, abusos sexuais de crianças, é de 4 meses. Sabendo nós que:
Dezembro de 1999 teve 31 dias.Janeiro de 2000 teve 31 dias.
Fevereiro de 2000 teve 29 dias.
Março de 2000 teve 31 dias.
Os crimes deram-se em dois dias, destes 122 dias.Em matéria de defesa é praticamente impossível apresentar, por parte do arguido, álibis para todos esses dias.Segundo crime:"Um de abusos sexual de crianças com LD (=LN) em Elvas no último trimestre de 1999 a um sábado, antes do Natal."
Sabendo:Outubro de 1999 teve 5 sábados.Novembro 1999 teve 4 sábados.Dezembro 1199 teve 3 sábados.
(dia 25 foi um sábado, não conta porque o crime foi antes do Natal).O crime teve lugar num deste 12 dias.
Cabe à acusação provar que o arguido esteve no local do crime, pelo menos, em um desses 12 dias.
Cabe à defesa demonstrar que o seu constituinte não poderia estar no local do crime em nenhum desses dias.A tarefa da defesa para este crime está mais facilitada, é reduzido o número de dias para apresentar álibis sólidos para esses doze dias.
No entanto o Acórdão condena o arguido deste crime situando-o no último trimestre de 1999, antes do Natal.
Acórdão, página 1610:"Com efeito o Tribunal deu como provado que o LN nasceu em 26/09/86, os factos praticados pelo arguido Carlos Pereira Cruz ocorreram "num dia indeterminado do último trimestre do ano de 1999, antes do Natal" e traduziram-se em coito oral."
Assim, o Natal é dia 25 de Dezembro, excluindo as datas, (desde o dia 25 até ao dia 31 de Dezembro), ficamos:Outubro de 1999 teve 31 diasNovembro de 1999 teve 30 diasDezembro 1999 teve 31 dias, como foi antes do Natal apenas se contam 24 dias.Segundo o Acórdão, agora, o crime deu-se num dia indeterminado destes 85 dias possíveis.
Como a defesa apenas conseguiu arranjar álibis para 12 dias, conforme a Pronúncia, faltam 73 dias para os quais a defesa não tem álibis. E não tem porque nunca lhe foram pedidos.Esta alteração, por parte do tribunal, é grave, incompreensível e ilegal.
A inconsistência e a falta precisão das datas dos crimes dificultam enormemente a defesa mas também fragilizam a acusação. Assim, a resposta à pergunta seguinte é fundamental.

Onde?
Segundo a acusação existem dois locais dos crimes:Dois crimes: Avenida das Forças Armadas, nº111, 2º andar, em Lisboa.Um crime na rua Domingos Lavadinho, nº 24, em Elvas.Quanto aos locais dos crimes a acusação não os alterou à última hora, manteve-os conforme a Pronúncia.
A determinação destes locais apenas é corroborada pelas vítimas e por Carlos Silvino.
De forma inconsistente e contraditória, como adiante veremos.No intuito de se provar estes locais, como sendo aqueles em que ocorreram os crimes, é necessário proceder ao seu reconhecimento por parte das vítimas e do Carlos Silvino.
Como:
Indicando a direcção a tomar para lá chegar.Descrevendo os locais.Descrevendo o interior desses locais.Como e por onde entrou.Se possível fazendo esboços, desenhos ou esquemas.Dizendo o que/quem lá estava e/ou o que/quem lá viu.Depois o tribunal, munido destes elementos. deve proceder ao reconhecimento do local levando consigo a testemunha ao sítio por ele previamente descrito.
Na fase de inquérito a polícia não procedeu a este reconhecimento para todos os visados que alegavam ter estado em tais locais. Assim, existem poucos dados para aferir da possibilidade de certas vítimas terem efectivamente estado nessas casas.
Aquilo que não se fez na investigação passou-se a fazer já em julgamento, desenhos e descrições dos locais, das vítimas que ainda não o tinham feito, bem como outras.Estranhamente o tribunal só levou aos locais dos crimes, para fazerem o reconhecimento, apenas:FG e JPL a Elvas, entrando no interior da casa.Carlos Silvino ao apartamento da Avenida das Forças Armadas. (ficando apenas no hall dos elevadores, não entrando dentro do apartamento.)(Houve ainda o reconhecimento de JPL ao teatro Vasco Santana)
De tudo isto podem-se tirar várias conclusões. A conclusão do tribunal é clara, estes são, sem dúvida, os locais dos crimes.
Aqui o tribunal erra rotundamente.
Ao contrário de outras situações em que o tribunal analisa o testemunho sob o aspecto psicológico, emocional e até mesmo gestual daquilo que é dito, temos declarações que podem ser confrontadas com provas materiais, desenhos, esboços e com o reconhecimento feito in loco pelo tribunal.As evidências são muitas, as vítimas nunca estiveram naqueles locais.De declarações contraditórias acerca dessas casas, divisões, mobiliário e outras características.Desenhos completamente errados.Até chegarmos àqueles reconhecimentos ridículos, confrangedores, irrealistas e fantasiosos que fizeram aos locais, a mando do tribunal, duas vítimas e o Carlos Silvino.
Foi isto que o tribunal valorou? Foi assim que fundamentou a decisão?Teria sido mais coerente com as provas materiais, o tribunal, e antes dele, a Pronúncia afirmassem:"---uma casa indeterminada em Lisboa..."e:"---uma casa indeterminada em Elvas..."É claro que se assim fosse, depois do que dissemos sobre as datas dos crimes, ficaríamos com uma acusação no mínimo rocambolesca.
Mas possível, pois, para outros arguidos, lê-se:Página 148 do Acórdão:"...para um andar situado num prédio localizado na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, com número de porta não concretamente apurado, mas localizado na lateral da Alameda D.Afonso Henriques, onde se situam os números ímpares."
Por isso é de capital importância a pergunta:
Quem?
Englobando na resposta quem cometeu o crime, sobre quem foi cometido e quem o testemunhou.Começando pelos últimos, sobre quem, e quem lá estava, o próprio tribunal denotou extrema dificuldade em concretizar e identificar estes intervenientes.Acórdão, página 168:"125.1. No dia combinado o LN chegou ao local de encontro, tendo o arguido Carlos Silvino da Silva aparecido com uma das carrinhas brancas, da C.P.L., de nove lugares, após o que foram apanhar, pelo menos, mais dois menores""125.2. Tendo seguido para a cidade de Elvas, para casa da arguida Gertrudes Nunes, para que os menores aí fossem sujeitos a práticas sexuais por indivíduos adultos do sexo masculino."e na página seguinte:"125.4. No interior da referida vivenda encontravam-se os arguidos Hugo Marçal, Carlos Cruz e mais dois adultos cuja identidade não foi possível apurar."
Daqui se deduz que quer quanto aos menores que foram vítimas de abusos sexuais e com quem iam, quer quanto aos co-arguidos que lá estavam, o tribunal é pouco preciso, pois em audiência de julgamento os rapazes contavam histórias diferentes.
De todos os relatos dos rapazes o tribunal optou por fazer uma espécie de apanhado geral, imputando os crimes a Carlos Cruz na pessoa de um, ou dois, dos vários menores que os denunciaram, deixando outros, e não identificando os menores que o acompanhavam bem como a presença de outros co-arguidos.
O tribunal recorreu a esta técnica para poder, por omissão, atender às mais variadas e insanáveis contradições que as declarações dos jovens, e Carlos Silvino, sistematicamente encerravam.
É certo que o tribunal diz pensar conhecer os outros desconhecidos, menores e adultos, que lá estavam; só que argumenta que não o pode provar.
Esta fundamentação de factos não provados é muito frágil pois não se baseia só nos álibis dos co-arguidos, mas principalmente e quase exclusivamente na palavra dos menores e de Carlos Silvino, evidenciando assim as contradições.
O mesmo acontece para os factos que o tribunal deu como provados, com base nos mesmos testemunhos, sem se ancorar em prova material.
A incoerência desses testemunhos é de tal ordem que o tribunal de dúvida em dúvida e de incerteza em incerteza, os vai validando, apontando contradições, até chegarem a uma convicção final de condenação.Carlos Silvino, para o tribunal, sem fundamentação válida, umas vezes diz a verdade outras vezes está a mentir e, por vezes, acha que não conta tudo para se defender.
Em relação aos menores o tribunal toma uma atitude de total credibilidade em seus relatos, nunca aceita nem detecta qualquer mentira, chega ao ponto de validar o reconhecimento do local de um dos crimes (Elvas) por parte de duas vítimas, com incoerências absurdas, desvalorizando o relato em que os próprios são vítimas de abuso, não lhe atribuindo mentiras puras e duras mas sim uma desculpável "vivência de outros" incorporada em seu discurso por anos de abuso que relataram e que o tribunal dá como provados, mas, agora, diz que as vítimas são outras.
Esta fundamentação redonda em que se desvaloriza valorizando, da incoerência e da contradição se chega a uma "ressonância da verdade", está presente em muitas páginas do acórdão.
O mesmo se pode dizer quanto à identificação do autor ou possíveis autores dos crimes, pois dos relatos dos menores todos lá iam, agora só dois estão presentes.
Há a nítida impressão que o tribunal queria condenar e então dividiu, como quem reparte rebuçados, os diversos crimes pelos arguidos presentes, essa repartição poderia ter sido outra, pois a fundamentação que a sustenta é nula.
Com a mesma argumentação dada pelo tribunal podemos mesmo, no caso de Elvas, trocar o Dr. Hugo Marçal pondo-o no papel de Carlos Cruz e vice-versa, ou retirar um ou ambos arguidos substituindo-os por outros co-arguidos que o resultado era o mesmo, bastava dizer que tal "ressoou" daquela maneira.
A mesma troca pode ser feita com as vítimas.O tribunal da relação liberta, da prisão preventiva, o Dr. Paulo Pedroso objectando, no caso da identificação, a fragilidade do reconhecimento fotográfico, feito pelas vítimas, duma foto a preto e branco existindo no álbum uma mais nítida a cores.
Esta argumentação, embora válida, pode ser contestada com alguma lógica.
O que dizer, então, das identificações feitas pelos menores, no caso de Carlos Cruz?
"Vi-o pela primeira vez....mas antes já o tinha visto...
""Sabia quem era,...quando lá cheguei é que me disseram...
""Só o reconheci no álbum...já o conhecia da TV...
""Telefonava-lhe bastantes vezes...não tenho o número de telemóvel...agora já tenho....nunca lhe telefonei...""
Quando fui à polícia não sabia quem era...na polícia disse que já o tinha reconhecido...""
Não sei quem era (o abusador)...já sei (dias depois)...era o Carlos Cruz"
Declarações deste género aparecem no inquérito, na instrução e até mesmo em sede de julgamento.
Devíamos, portanto, como acima fizemos, concluir que teria sido mais coerente com as provas materiais, o tribunal, e antes dele, a Pronúncia dissessem:"...um menor desconhecido foi vítima de abuso sexual por parte de um adulto, do sexo masculino, cuja identidade não foi possível apurar..."Chegando a uma (não) acusação ridícula e absurda.Quanto à penúltima questão.

Como?
O tribunal chega a qualificar de "rede informal" as actividades dos arguidos neste caso. Este paralelo com a possibilidade jurídica da existência de redes organizadas na perpetração de crimes leva-nos a crer que existem provas concretas e indesmentíveis do modus operandi dos arguidos.
No entanto a redacção no acórdão diz:Página 151"...o arguido Carlos Silvino da Silva, por contacto não concretamente apurado, levou a uma residência sita na Avenida das Forças Armadas..."
Página 153
"Decorridos cerca de um ou dois meses, o arguido Carlos Silvino, por contacto não concretamente apurado, voltou a levar novamente ao arguido Carlos Pereira Cruz e à morada mencionada,...
"Página 156"
...encontrou-se com o assistente LN, à data com 13 anos de idade, num local concretamente não apurado, mas previamente combinado com o assistente."
Neste último caso - "...mas previamente combinado com o assistente.
", escusado é dizer que essa combinação se dá através de "contacto não concretamente apurado"A tal "rede informal" reúne, conspira, organiza encontros, marca dias e horas, arranja locais, recruta menores etc... tudo isto, por telepatia!
Isto não se percebe, neste capítulo o tribunal devia ter-se munido de prova documental, registos telefónicos, vias verdes, recibos de estadas nos locais, testemunhas oculares credíveis, etc. - Provando a organização em rede criminosa dos arguidos.
Como essas provas materiais, e outras, provam que o contrário é que é verdade, Carlos Cruz não conhecia nenhum dos menores, nem nenhum dos co-arguidos, assim, o colectivo, baseando-se numa ínfima possibilidade de ele lá ter estado, tal como qualquer um de nós, acha plausível lá ter estado.
Duma maneira inexplicável, o tribunal, rejeita provas materiais, concretas e exaustivas, tendo em conta os dias possíveis para a ocorrência dos crimes, apresentadas pelos arguidos e no caso especial de Carlos Cruz, porque é o único arguido que nada tem a ver com o caso - nem em relação Carlos Silvino, nem com os menores, nem com qualquer dos outros arguidos, nem mesmo com os locais indicados.
A situação dele também é diferente devido à sua notoriedade e fama que gozava aquando dos crimes que o impossibilitavam nas deslocações e estadas em locais sem contudo nunca ter sido reconhecido.
Em resumo, o colectivo diz que, o período de tempo, dia exacto, ou dias, da ocorrência dos crimes é tão grande que, se os arguidos provam a impossibilidade lá terem estado nesses dias, presume que talvez ocorressem em outra data, que sendo rebatida pela defesa depressa apontam para outra e assim sucessivamente.
Argumenta também que são muitas as situações, e muitos os rapazes, que mencionam o seu nome levando o tribunal a retirar daí um fundo de verdade. Mas, aparentemente, contra-argumenta de modo paradoxal, quanto à impossibilidade de nunca ter sido reconhecido, com o facto de só lá ter estado uma vez (Elvas), ou duas como no caso das Forças Armadas.
Vendo a dificuldade de provar que os contactos eram feitos primeiro directamente, através de telefonemas, pelas vítimas, que os referiram até na comunicação social, depois através de Carlos Silvino, pelo telefone ou pessoalmente, coisa que este afirma e depois desmente, em seguida através dum porteiro da CPL, com troca de bilhetes, que se veio a provar falso porque este funcionário, à data dos crimes, já tinha falecido, chega-se à conclusão que, muito provavelmente, tais contactos nunca se deram mas o colectivo fica com a convicção que ocorreram mas não foram apurados!
O tribunal chega a identificar um veículo usado nas deslocações dos menores aos locais, depois duma análise exaustiva aos carros da CPL, opta por uma carrinha.
Também aqui a fundamentação é frouxa e dum modo indirecto vem descredibilizar os testemunhos das vítimas, pois, muitos há, que apontam para outros veículos da CPL, para o automóvel pessoal de Carlos Silvino e até há quem afirme que se deslocavam nas viaturas dos arguidos!Quem diz a verdade? Quem mente, ... perdão, quem interioriza a vivência automobilística vivida por outros?Passemos à última pergunta.

Porquê?
No que respeita aos arguidos a resposta do tribunal a esta pergunta é fácil: perversão, parafilia, satisfação dos instintos libidinosos etc.Aqui entram as perícias médico-legais e os testes psicológicos às vítimas e aos arguidos.É sabido que estes exames não provam que o menor A foi vítima de abuso sexual pelo indivíduo B, nem que este último não pudesse, sendo funcionalmente capaz, de ter relações sexuais com o menor A, ou outro.
No entanto demonstram algumas particularidades, por exemplo:Os menores foram vítimas de sodomia. Estas relações sexuais foram na ordem das dezenas e com frequências semanais de três ou mais vezes, em período recente.
Isto não iliba nenhum dos arguidos, mas desmente ou fragiliza certas declarações de alguns menores, que referem em audiência que só tiveram aquelas relações, mencionando 5 ou 6, naquela altura (há 4 ou 5 anos) e que de desde essa data não estiveram com mais ninguém. Argumentar-se-á com a vergonha e o pejo de referir outras, mas por que motivo referir só umas e não todas?Sobre as perícias relembro que o acórdão diz:Página 167:
"O arguido Carlos Cruz disse a LM que o acompanhasse a um dos quartos. Aí o arguido Carlos Cruz despiu-se e mandou o LM despir-se, tendo de seguida dito ao menor que lhe manipulasse o pénis, o que este fez.
É lógico concluir que quando o colectivo diz: - "...Carlos Cruz despiu-se...", quer dizer que tirou toda a roupa, ficou nu. Ora em sede de perícias forenses, nestes casos, pergunta-se às vítimas por sinais particulares nos corpos dos alegados abusadores - cicatrizes, tatuagens, sinais, queimaduras, piercings, pigmentações de pele, marcas de nascença etc. Em relação a Carlos Cruz esta informação é vital, pois possui uma cicatriz torácica evidente, resultante duma cirurgia, realizada muito tempo antes da data dos supostos abusos.
Estranho que nenhum dos rapazes a tenha mencionado ou levemente referido.Será que o tribunal se refere aquela nudez como "...despiu-se da cinta para baixo"? Mas se assim o pensa devia-o ter referido, já que é tão cuidadoso e meticuloso nas descrições dos actos sexuais, apenas testemunhados pelos menores, também, pela mesma lógica, deveria tê-lo feito neste caso, é só pela boca do menor que o tribunal conclui que o arguido se despiu.
Dos exames médicos e psicológicos a que o Carlos Cruz se sujeitou conclui-se da ínfima probabilidade de ser pedófilo, ou ser abusador de menores.No entanto esta integração social e sanidade mental do arguido Carlos Cruz, bem como a sua estabilidade familiar, económica e sexual são no entender do colectivo, mais uma vez de forma paradoxal, um elemento que o favorece e ao mesmo tempo que o incrimina, argumentando que tais atributos lhe facilitariam o crime.
É desconcertante este modo de pensar.
Por essa lógica, num mero raciocínio hipotético se o Carlos Cruz tivesse uma vida desregrada, família desestruturada, debilidade financeira, enfim, sendo um pobre infeliz, (como atestam certos relatórios das vidas de alguns rapazes que são acusados pelos seus educadores de terem abusado sexualmente de outros colegas mais novos), como dizia, aí o colectivo deveria concluir que tal situação do arguido favorecia o crime mas que ficavam com a convicção que tal não teria ocorrido!
Na resposta à pergunta:

porquê?
Podemos incluir - porquê os menores acusam estes arguidos, e não outros?Como é sabido acusam outros e muitos. Alguns nas mesmas circunstâncias ou semelhantes. Esses nomes, dizem que mais de cem, nunca foram ouvidos e/ou investigados. Tanto acusam estes como acusam muitos outros.
Respondo à pergunta com outra pergunta:Porquê constituir arguidos estes e não outros? Mistério.Só a investigação o sabe, mas não o diz.
Porquê que é que nenhum dos menores se retrata em tribunal?Era uma reviravolta bonita de se ver, era preciso coragem e determinação por parte de pessoas que ao longo do processo nunca as demonstraram ter, o que perderiam dizendo a verdade?
Chacota geral, vergonha, desprezo e os 50 mil euros de indemnização, talvez já gastos
É claro que dizendo, em tribunal, o que realmente aconteceu, perderiam muito mas ganhavam muito mais, ganhavam a verdade.
Em conclusão, porque muito mais se poderia dizer, lembrava que, não discutindo a culpabilidade ou a inocência de Carlos Cruz, sou obrigado a admitir que, ao contrário do tribunal que vai para a condenação, ninguém com um pensamento isento e justo chegaria ao outro veredicto que não fosse: - ABSOLVIÇÂO.

obrigado king25!!!