sexta-feira, 17 de setembro de 2010

como se escolhe qual depoimento é mais verídico?

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Maria do Rosário Perinhas Sena Zambujo, nascida a 01 de Outubro de 1946, aposentada, foi assistente social na Casa Pia de Lisboa de Outubro de 1968 a Julho de 2006, tendo declarado ao Tribunal ter estado desde 1981 no Colégio de Pina Manique, tendo exercido a suas funções em contacto directo com os educadores e falado sobre esse trabalho.
Conheceu o arguido Carlos Silvino da Silva na instituição, nunca tendo tido conhecimento que o mesmo tivesse estado proibido de fazer o transporte de alunos.
No entanto referiu ao Tribunal que antes de se saberem os factos deste processo, um educador - Joaquim -, disse à testemunha que não queria que o arguido Carlos Silvino da Silva se aproximasse dos educandos, embora não lhe tenha dito porquê e a testemunha também não tenha perguntado, explicando que não fez pois não é“curiosa”. Ficou “muito surpreendida” com o que veio a público sobre o arguido Carlos Silvino da Silva, aquando deste processo. A testemunha nunca viu nada. Quanto ao arguido Manuel José Abrantes via-o na instituição mas não nos lares, dizendo que não parecia “muito” nas festas de Natal, nem na festa do 3 de Julho. O arguido nunca lhe pediu qualquer processo de aluno, mas se o fizesse a testemunha era capaz de estranhar, sendo o Dr. Barreto quem perguntava “mais sobre os alunos”. Quanto aos fins de semana dos alunos em casa, disse que eram combinados, mas acrescentou que “ não iam atrás dos alunos” e eles podiam ir para um lado e ir para o outro. Acrescentou que os educando não eram jovens que se “abrissem” muito “connosco”, o que o Tribunal interpretou não só com os educadores, mas também com as demais pessoas que faziam parte das equipas de internato.

Demonstrou conhecimento directo do processo de vivência do assistente MA na instituição - declarações que nesta parte foram cruzadas com os elementos que se encontram no processo psicossocial deste assistente, Apenso Z-15, volume 2º, fls. 658 a 769 -.
Demonstrou, também, conhecimento directo do processo de vivência do JL na instituição. Disse que não os via “muito ligados” - o JL e o MA - e quando lhe foi perguntado sobre um processo “Mike, de Oeiras”, de forma afirmativa disse que o JL era o aluno que estava envolvido.
Quanto aos livros de ocorrências dos Lares sabe que eram preenchidos, embora tenha dito que não tinha muito tempo para os ver, sendo a sua percepção que as coisas que os educadores escreviam eram mais recados entre os educadores, mas é claro referidos à vivência dos educandos. Apelidou-os de uns instrumento de trabalho, dizendo que havia falhas no preenchimento e dizendo ao Tribunal que não podia confirmar se as notas escritas correspondiam ou não à verdade.
Falou também dos educando envolvidos neste processo, de quem soube e como.
E disse que em relação ao assistente FG “soube logo” porque este manifestou-se. Referiu que a dada altura houve uma questão de terem sido pedidos (depreendeu-se para o processo) os livros de ocorrências do lar Alfredo Soares e soube que o assistente JL estava envolvido. MA só soube “depois”, o qual conversava com a testemunha, mas sem falar deste assunto e deste processo.
Do seu conhecimento o FG era um aluno “fechado”, só dizia o que queria e “também não falava verdade”. Inventava muitas coisas relativas à família, inventava uma vida em que era rico. Para a testemunha era mentiroso porque imaginava que ia ter uma vida que não tinha e não dizia o que fazia. Referiu a forma como se vestia, com um fato, era para imaginar que “era sempre mais do que era na realidade”, que mais tarde ia ser importante. Dizia que “fabulava” porque vivia num mundo que não era o seu, que ele imaginava e que não ia acontecer. E explicou, que o FG não diz, por exemplo, “ o meu pai tem um Porsh”, era mais mais em relação à família : o irmão
vivia em casa da tia com piscina e ele ia de 15 em 15 dias, tendo o Tribunal depreendido do seu depoimento que viver como o irmão era algo que FG tinha pena não lhe acontecer.


Referiu o problema que este educando tinha de não retenção de fezes e os educadores queixavam-se que sujava a roupa. Tinha uma grande admiração pelo arguido Carlos Silvino da Silva e queria também ser motorista. Ficou muito perturbado quando o arguido Carlos Silvino da Silva foi preso, quis falar com a testemunha, mas a testemunha disse-lhe para falar com a polícia ( esclarecendo que o FG não lhe quis “contar”, disse-lhe é que queria falar porque tinha coisas para contar). O que a testemunha entendeu é que FG queria ir em defesa do arguido Carlos Silvino da Silva.
No entanto, num segundo momento, esclareceu que esta conversa não foi com a testemunha mas com o Dr. Luís Vaz, o director do colégio de Pina Manique.
Foi confrontada com o documento do “Apenso BX”, fls. 1 a 3 ( documento que faz parte do processo individual do assistente FG), tendo esclarecido que não concordou com todo o teor do documento, não se recordando da razão concreta pelo qual foi feito, esclarecendo que se calhar foi para “esclarecer a situação” do FG. Em relação ao FG disse que após averiguação que fizeram de elementos do FG - averiguação que o Tribunal depreendeu ter ocorrido já depois do conhecimento dos factos deste processo e relacionando-a com registo de consultas do assistente -, chegou à conclusão que houve alturas em que o FG dizia que ia para casa da Tia e não ia (acrescentando que não faziam o controlo, “ele dizia que ia para casa da tia e
pronto”.)
Quanto a JL disse que era “mentiroso”, “roubava coisas” e não “se podia confiar”.
Teve conhecimento da sua relação com o “processo Mike”.


Chamo a atenção e este depoimento ter sido feito por uma pessoa com uma larga experiencia com miudos da Casa Pia, com rotinas neste tipo de trabalho, ao contrario dos juizes que julgaram este processo, que manifestamente não levaram em linha de conta aquilo que uma pessoa com cerca de 40 anos de experiencia disse, e não conseguiram encontrar contradições relevantes entre os assistentes, nos quais basearam a condenação de Carlos Cruz.
O FG= Francisco Guerra foi aquele que as pessoas viram na tv a dizer que estava satisfeito como tinha corrido o julgamento, imagino que sim, se receber mais uns milhares ....

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